Superlotação no BRT Transoeste é causada pela falta de ônibus, afirma secretário

15/04/2015 - Extra - RJ

Leia: Em apenas três anos, BRT Transoeste já está saturado - Extra - RJ


A Secretaria municipal de Transportes (SMTR) admitiu, nesta terça-feira, que o BRT Transoeste opera com menos veículos do que o necessário para dar conta da demanda. Seriam necessários, hoje, segundo o secretário de Transportes Rafael Picciani (PMDB), mais 41 ônibus articulados e 15 não-articulados — somados aos 316 coletivos que existem nos dois corredores. O subsecretário Alexandre Sansão admite que o sistema está "no limite" e responsabiliza o consórcio BRT, que manteria 10% da frota — e não os 5% previstos em contrato — em manutenção.

— A gente já está no limite da capacidade operacional, que pode ser aumentada assim que esses novos ônibus entrarem em operação. Isso vai permitir que sejam reduzidos os intervalos — afirma Sansão.

O consórcio, por outro lado, alega que o número de veículos quebrados é de 11% e se deve à má qualidade do asfalto. Em nota, o BRT diz que "não consegue colocar 100% dessa frota em circulação em função dos problemas de conservação no pavimento asfáltico". Picciani admite problemas na conservação do asfalto.

Sansão reconhece que o BRT não respeita os intervalos definidos. A prefeitura determina que, no horário de pico, não pode passar de 5 minutos. O BRT trabalha com 6, mas chega a 18 em algumas linhas.

O consórcio e a secretaria não entraram num consenso em relação ao número de passageiros do sistema. Segundo Sansão, 11 mil pessoas usam o Transoeste no horário de pico por hora num mesmo sentido. O BRT informou que são 14 mil. Já a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos recebeu do consórcio o número de 17 mil — como o EXTRA publicou nesta terça.

Frota já deveria estar maior

Dezoito dos 41 ônibus articulados, que possibilitariam a redução dos intervalos e, segundo a SMTR, acabariam com a superlotação no BRT Transoeste, deveriam estar em circulação desde 6 de março — quatro meses após a determinação da prefeitura para a compra. Mas o prazo foi ampliado pelo secretário Rafael Picciani, que deu mais quatro meses para as empresas.

— O consórcio pleiteou, e prorroguei por mais quatro meses o prazo de entrega, porque consideramos que esse período de dezembro e janeiro é uma época de complexidade para se cumprir prazos. As próprias montadoras têm férias coletivas, não estão trabalhando. Além disso, no início do ano, as empresas têm uma série de custos obrigatórios. E estamos num período de crise econômica, onde o acesso ao crédito se tornou mais complexo — justificou Picciani.

Já os 23 veículos que devem ser comprados para serem utilizados na Transcarioca foram pedidos pela prefeitura no último dia 8 e têm data de entrega prevista até 8 de agosto, caso não haja prorrogação.

Apesar de descumprir reiteradamente os intervalos entre as viagens estipulados pela prefeitura, desde 2012, o Consórcio BRT recebeu apenas 458 multas da Secretaria de Transportes.

Ampliação

Sansão afirmou que a capacidade do sistema pode aumentar "adquirindo mais articulados, reduzindo os intervalos e melhorando a manutenção". Hoje, segundo ele, o BRT tem capacidade física — relacionada à dimensão dos terminais, tamanho das estações e outros aspectos — para até 30 mil pessoas por hora no mesmo sentido nos momentos de pico. Atualmente, falta capacidade operacional.

Obras

A SMTR afirmou ontem que os terminais Mato Alto, Magarça e Guaratiba serão reformados. Um terminal será construído para substituir a estação de Santa Cruz.

Problema antigo

A superlotação do Transoeste é uma reclamação antiga. Em março de 2013, nove meses após a inauguração, o EXTRA publicou a primeira reportagem sobre o assunto.

Subestimado

O prefeito Eduardo Paes admitiu, em março deste ano, que a demanda do BRT foi subestimada.

Sufoco começa antes de embarcar

Se as viagens de BRT se tornaram mais rápidas do que em ônibus convencionais, como era prometido, a longa espera nas estações se tornou uma das principais reclamações. Nesta terça, na de Santa Cruz, funcionários liberaram a roleta, por volta das 6h30m, para quem tinha pressa. É que o sistema estava lento, e o carregamento do cartão demorava até cinco minutos.

— Cheguei às 6h, mas para conseguir um lugar sentada esperei 50 minutos na fila, do lado de fora. Ainda assim porque decidi trocar o expresso pelo parador — contou a doméstica Lúcia Aparecida da Silva, de 48 anos, que gasta praticamente o mesmo tempo no percurso até a estação Salvador Allende, na Barra, onde troca de condução para ir ao trabalho, no Novo Leblon.

Ela só conseguiu embarcar por volta das 7h.

— Para voltar é pior — contou.

A cuidadora de idosos Arlene Silva Felix, de 40 anos, mora em Santa Cruz, trabalha no Recreio e pena diariamente no Transoeste:

— É sempre esse empurra-empurra. Deveriam colocar mais ônibus, com saídas a cada cinco minutos. Eles demoram muito e deixam a estação lotados. Cheguei aqui (na estação de Santa Cruz) às 6h e só consegui pegar o ônibus quase uma hora depois, para viajar em pé. É um drama diário.

O EXTRA percorreu, também nesta terça, no horário do pico matinal, das 5h30m às 7h30m, três das quatro estações de maior movimento do Transoeste — Santa Cruz, Mato Alto e Magarça — e observou o aperto dos passageiros: plataformas e ônibus lotados, portas com defeito e dificuldade para carregar os cartões de passagens.

Com uma perna engessada e apoiada em muletas, a fisioterapeuta Leila Maria de Souza, de 50 anos, passou sufoco para, em meio a uma multidão, entrar no ônibus, na estação Mato Alto, por volta das 7h30m, vindo de Santa Cruz, superlotado:

— É complicado viajar no BRT na hora do rush, principalmente para quem tem dificuldade de locomoção.

Comentários

Anônimo disse…
AH NÃO ME DIGA ?