19/03/2015 - Extra - RJ
O único movimento visto, na última quarta-feira, na estação do BRT Maria Tereza, em Campo Grande, era do vigia que, sem ter o que fazer, cochilava, por volta do meio-dia. Pronta há um ano e dois meses, a estrutura nunca recebeu passageiros. Mas esta não é a única estação fantasma do corredor Transoeste. Destruídas durante protestos, a Vila Paciência e a Cesarão II, ambas em Santa Cruz, também deixaram os moradores a pé.
— O jeito é desembarcar uma estação antes ou uma depois e caminhar com peso — reclama a vendedora Carla Trindade da Silva, de 38 anos, que precisa andar cerca de 500 metros sempre que vai às compras no centro de Santa Cruz ou de Campo Grande.
Para alcançar a estação Vila Paciência, ao lado de sua casa, a moradora não caminharia mais do que 20 passos. O transtorno já dura cerca de um ano, desde que a estrutura foi incendiada num protesto de moradores da Favela do Aço contra ação da PM que resultou na morte de um menino de 12 anos.
Duas estações adiante, no sentido Santa Cruz, o mesmo drama é enfrentado por quem mora perto da Cesarão II, incendiada em janeiro, também durante protesto após ação policial na mesma favela. Fechada e com pedaços de madeira onde havia vidros, não tem previsão de reabertura.
Em Campo Grande, a estação Maria Tereza, pronta e equipada há mais de um ano, nunca funcionou. O desgaste provocado pela falta de uso e pela ação de vândalos é visível, como vidros quebrados e parte da grade de aço de uma das rampas arrancada. Há sete meses, um grupo de moradores fez a inauguração "simbólica", alertando para o problema e para o fim das linhas 853,854 e 855, que seriam substituídas pelo BRT.
— Essa estação não traz benefícios para ninguém — afirma a panfletista Jaqueline Helena Alves, de 34 anos, que, para ir à Barra, precisaseguir primeiro no sentido contrário, até Santa Cruz.
Para o aposentado Benedito da Maia, de 59 anos, morador de Campo Grande, a estação Maria Tereza não funcionar é "uma falta de respeito" com a população:
— A gente custa para comprar um saco de cimento, e eles gastam material à toa com essa estrutura desativada e ainda pagam funcionários para tomar conta. Do jeito que está, só serve de abrigo para mendigos. Enquanto isso, a gente fica sem locomoção. É um desperdício de dinheiro público e um desrespeito com o morador da Zona Oeste. O prefeito deveria se manifestar sobre isso. Moro na Avenida Aldo Botelho e lá sim, precisamos do BRT, mas o corredor só atende à Cesário de Melo. Estou fotografando e vou jogar na rede social para que todos vejam como está.
Já o barbeiro Edson Santos, de 41 anos, morador em Santa Cruz, lamenta a situação da estação Cesarão II.
— Ela foi destruída no começo do ano e acabou deixando a população a pé. Quem paga a conta é o morador, pois quem queima nem sempre precisa de condução. Como as autoridades costumam demorar a olhar para a Zona Oeste, a solução para um problema desses demora a chegar. Acho que nem tão cedo vão reconstruir. Com isso, o povo é que sofre. Hoje, nossa opção é descer uma estação antes ou uma depois e caminhar por cerca de 500 metros, quando tínhamos uma estação do BRT, onde o ônibus deixava na nossa porta. É uma situação lamentável.
O preço do vandalismo
Localizadas perto da Favela do Aço, as estações da Avenida Cesário de Melo em Santa Cruz são o calcanhar de Aquiles do sistema do BRT Transoeste, pois são alvo frequente de vandalismo. A Vila Paciência chegou a ser totalmente reconstruída a um custo de R$ 833 mil para a prefeitura, gastos só com a estrutura, conforme despacho publicado em setembro no Diário Oficial do município.
Na ocasião, a prefeitura contratou uma empresa em caráter emergencial para executar a obra em dois meses. O município garante que o trabalho foi feito dentro do prazo estipulado. Entretanto, ontem, o EXTRA esteve no local e constatou que a estação ainda não está funcionando e apresenta sinais de vandalismo.
O consórcio BRT, a quem cabe equipar as estruturas, explicou que a estação chegou a ser reaberta, após a conclusão dos reparos, mas foi alvo de novos ataques de vândalos, que levaram os equipamentos instalados, como câmeras e monitores, forçando um novo fechamento.
Sem prazo
A Prefeitura do Rio não informou o valor total gasto com a construção das três estações visitadas pelo EXTRA. A Vila Paciência e a Cesarão II ainda não têm previsão para serem reabertas. Segundo a Secretaria municipal de Transportes, a estação Maria Tereza foi construída para atender a demanda futura, servindo ao trecho Campo Grande-Alvorada, que já tem projeto definido. A obra, no entanto, não tem data para começar. Sobre as linhas 853, 854, 855, informou que se tornaram alimentadoras do BRT e continuam atendendo a população da região. A diferença é que antes elas seguiam direto para a Barra e, agora, vão até o Mato Alto, onde os passageiros precisam fazer transbordo.
A Secretaria de Conservação informou que a Vila Paciência teve seu reparo concluído no prazo previsto e que, depois, foi novamente entregue ao consórcio que administra o BRT. Já em relação ao reparo da Estação Cesarão II, a Secretaria de Transportes informou apenas que esse serviço cabe ao consórcio. E não se manifestou sobre o fato de as duas estações estarem inoperantes.
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