17/05/2012 - Extra
Marcelo Dias
A conta para se viajar mais depressa no Rio de Janeiro será uma das mais altas do mundo, considerando-se a comparação em dólar com outras metrópoles
Corredor e ônibus do Transoeste, Rio de Janeiro
créditos: Fabio Rossi / O Globo
Prevista para ser inaugurada no próximo dia 21, a TransOeste — a primeira das quatro vias expressas de ônibus projetadas para a cidade — terá uma tarifa que custará 5,7 vezes a do Metrobus de Buenos Aires, por exemplo.
No Rio, a passagem custa R$ 2,75 ao longo de um trajeto de 56 quilômetros. Em Buenos Aires, pagam o equivalente a R$ 0,48. Em dólar, os cariocas desembolsam US$ 1,39 contra US$ 0,24 dos portenhos, segundo a cotação desta sexta-feira (11).
Comparando-se com outras cidades, percebe-se que a tarifa cobrada no Rio é pesada. Em Boston (EUA), paga-se US$ 1,25. Na Cidade do México, a população viaja por apenas US$ 0,36 ao longo dos 95 quilômetros do Metrobús — que é mais caro até do que o metrô. Em Bogotá, o preço da passagem da TransMilénio é de US$ 0,99. Inspirado nos corredores de Curitiba, o projeto colombiano virou referência mundial e conta com uma rede de 84 quilômetros.
Na China, a via expressa de Guangzhou serve a 800 mil passageiros por dia, um recorde mundial, ao longo de 22,5 quilômetros. Lá, a tarifa custa US$ 0,31. Na capital Pequim, a rede possui 55 quilômetros e a passagem vale US$ 0,26. No único BRT (bus rapid transit, na sigla em inglês) intercontinental, o Metrobüs de Istambul, na Turquia, a tarifa custa US$ 0,60.
Hoje, o corredor com maior número de passageiros no planeta é o de Guangzhou, na China, com 800 mil usuários por dia. Lá, a passagem custa quase um quinto do que no Rio. E se o espelho for brasileiro, Curitiba — que inventou o conceito de ligeirões, em 1972 — se dá o luxo de cobrar uma simbólica tarifa de R$ 1 aos domingos.
Passe mensal nos EUA é mais barato
Mesmo nos EUA, é possível economizar nos corredores. Em Los Angeles, na Orange Line, o passe mensal custa 38,3% a menos do que seria necessário para desembolsar durante 30 dias no Rio. Lá, o passageiro paga US$ 52 (ou R$ 101,44) para usar todos os meios de transportes públicos durante o dia inteiro, por todo o mês. Aqui, seriam necessários R$ 165 e, mesmo assim, válidos apenas por duas baldeações entre ônibus na TransOeste por duas horas.
Por outro lado, os cariocas contam com uma frota muito melhor do que a de seus vizinhos latinos. Segundo a Fetranspor, a idade média dos ônibus do Rio é de 5,5 anos. Na capital mexicana, as ruas estão cheias de coletivos com mais de três décadas de uso — exceto no Metrobús, a rede de corredores exclusivos para coletivos, onde os 370 veículos são novos.
Além disso, os ligeirões do Rio terão ar-condicionado, sem acréscimo de tarifa. Na Cidade do México, onde o Metrobús reordenou o trânsito no centro histórico, a refrigeração pesaria no bolso dos 760 mil passageiros.
— Isso encareceria a tarifa, que, por motivos políticos, não é reajustada desde 2008 — diz o engenheiro de transportes Marco Priego, da Embarq México, ONG especializada no desenvolvimento de ações de mobilidade urbana.
Alerta vindo do México
Antes mesmo de entrar em operação, a TransOeste já recebe orientações para correção de rumo. A ideia da Secretaria de Transportes de permitir que linhas alimentadoras circulem dentro do corredor em alguns trechos e o compartilhamento de, pelo menos, quatro quilômetros de pista com os demais veículos na Estrada da Pedra, em Sepetiba, jogam por terra o conceito de via expressa.
— Isso é um risco à operação de um corredor como esse, com o tempo de viagem ameaçado — alerta o subgerente de planejamento da mexicana Metrobús, David Escalante Sánchez.
De qualquer forma, os ligeirões chegaram para ficar. Em todo o globo, 137 cidades usam o sistema, com 22,5 milhões de passageiros diariamente. E a população parece aprová-los a ponto até de pagar mais taxas para isso.
— Fizemos um plebiscito e a população nos autorizou a aumentar 0,5% da taxa cobrada sobre vendas, que é de 15%, para esses projetos. Esperamos juntar US$ 40 bilhões em 30 anos, e antecipar parte desse dinheiro em pouco tempo para iniciar novos projetos — conta o gerente-executivo da Agência Metropolitana de Transportes de Los Angeles, Hitesh Patel.
No Rio, se o preço da passagem do ligeirão está entre os mais salgados, o carioca terá — se tudo sair como planejado, até 2016 — a segunda maior rede de corredores do mundo, com 153 quilômetros, atrás só da subutilizada malha de Melbourne, na Austrália, com 233 quilômetros para parcos 36,2 mil passageiros por dia. Só a TransOeste, que ligará a Barra da Tijuca aos bairros de Santa Cruz e Campo Grande, terá 64 estações. O projeto foi orçado em R$ 900 milhões.
Ligeirões mundo afora
Brasil
São Paulo: R$ 3 (US$ 1,52), com 38,5 mil passageiros por dia em 10,8km.
Rio de Janeiro: R$ 2,75 (US$ 1,39), com previsão de 220 mil usuários em 56km.
Curitiba: R$ 2,60 (US$ 1,32), com 505 mil usuários em 81,4km.
Goiânia: R$ 2,50 (US$ 1,27), com 240 mil passageiros em 13,5km.
EUA
Los Angeles: US$ 1,50 (R$ 2,94), com 27 mil usuários em 22,9km.
Boston: US$ 1,25 (R$ 2,45), com 29,6 mil usuários em 9,2km.
México
Cidade do México: US$ 0,36 (R$ 0,72), com 760 mil usuários em 95km.
Colômbia
Bogotá: US$ 0,99 (R$ 1,95), com 1,65 milhão de passageiros em 84km.
Chile
Santiago: US$ 1,19 (R$ 2,34), com 2,4 milhões de usuários em 53,5km.
Argentina
Buenos Aires: US$ 0,24 (R$ 0,48), com 100 mil passageiros em 12,5km.
Turquia
Istambul: US$ 0,60 (R$ 1,19), com 700 mil usuários em 45km.
China
Pequim: US$ 0,26 (R$ 0,51), com 200 mil passageiros em 55km.
Guangzhou: US$ 0,31 (R$ 0,62), com 800 mil usuários em 22,5km.
Marcelo Dias
A conta para se viajar mais depressa no Rio de Janeiro será uma das mais altas do mundo, considerando-se a comparação em dólar com outras metrópoles
Corredor e ônibus do Transoeste, Rio de Janeiro
créditos: Fabio Rossi / O Globo
Prevista para ser inaugurada no próximo dia 21, a TransOeste — a primeira das quatro vias expressas de ônibus projetadas para a cidade — terá uma tarifa que custará 5,7 vezes a do Metrobus de Buenos Aires, por exemplo.
No Rio, a passagem custa R$ 2,75 ao longo de um trajeto de 56 quilômetros. Em Buenos Aires, pagam o equivalente a R$ 0,48. Em dólar, os cariocas desembolsam US$ 1,39 contra US$ 0,24 dos portenhos, segundo a cotação desta sexta-feira (11).
Comparando-se com outras cidades, percebe-se que a tarifa cobrada no Rio é pesada. Em Boston (EUA), paga-se US$ 1,25. Na Cidade do México, a população viaja por apenas US$ 0,36 ao longo dos 95 quilômetros do Metrobús — que é mais caro até do que o metrô. Em Bogotá, o preço da passagem da TransMilénio é de US$ 0,99. Inspirado nos corredores de Curitiba, o projeto colombiano virou referência mundial e conta com uma rede de 84 quilômetros.
Na China, a via expressa de Guangzhou serve a 800 mil passageiros por dia, um recorde mundial, ao longo de 22,5 quilômetros. Lá, a tarifa custa US$ 0,31. Na capital Pequim, a rede possui 55 quilômetros e a passagem vale US$ 0,26. No único BRT (bus rapid transit, na sigla em inglês) intercontinental, o Metrobüs de Istambul, na Turquia, a tarifa custa US$ 0,60.
Hoje, o corredor com maior número de passageiros no planeta é o de Guangzhou, na China, com 800 mil usuários por dia. Lá, a passagem custa quase um quinto do que no Rio. E se o espelho for brasileiro, Curitiba — que inventou o conceito de ligeirões, em 1972 — se dá o luxo de cobrar uma simbólica tarifa de R$ 1 aos domingos.
Passe mensal nos EUA é mais barato
Mesmo nos EUA, é possível economizar nos corredores. Em Los Angeles, na Orange Line, o passe mensal custa 38,3% a menos do que seria necessário para desembolsar durante 30 dias no Rio. Lá, o passageiro paga US$ 52 (ou R$ 101,44) para usar todos os meios de transportes públicos durante o dia inteiro, por todo o mês. Aqui, seriam necessários R$ 165 e, mesmo assim, válidos apenas por duas baldeações entre ônibus na TransOeste por duas horas.
Por outro lado, os cariocas contam com uma frota muito melhor do que a de seus vizinhos latinos. Segundo a Fetranspor, a idade média dos ônibus do Rio é de 5,5 anos. Na capital mexicana, as ruas estão cheias de coletivos com mais de três décadas de uso — exceto no Metrobús, a rede de corredores exclusivos para coletivos, onde os 370 veículos são novos.
Além disso, os ligeirões do Rio terão ar-condicionado, sem acréscimo de tarifa. Na Cidade do México, onde o Metrobús reordenou o trânsito no centro histórico, a refrigeração pesaria no bolso dos 760 mil passageiros.
— Isso encareceria a tarifa, que, por motivos políticos, não é reajustada desde 2008 — diz o engenheiro de transportes Marco Priego, da Embarq México, ONG especializada no desenvolvimento de ações de mobilidade urbana.
Alerta vindo do México
Antes mesmo de entrar em operação, a TransOeste já recebe orientações para correção de rumo. A ideia da Secretaria de Transportes de permitir que linhas alimentadoras circulem dentro do corredor em alguns trechos e o compartilhamento de, pelo menos, quatro quilômetros de pista com os demais veículos na Estrada da Pedra, em Sepetiba, jogam por terra o conceito de via expressa.
— Isso é um risco à operação de um corredor como esse, com o tempo de viagem ameaçado — alerta o subgerente de planejamento da mexicana Metrobús, David Escalante Sánchez.
De qualquer forma, os ligeirões chegaram para ficar. Em todo o globo, 137 cidades usam o sistema, com 22,5 milhões de passageiros diariamente. E a população parece aprová-los a ponto até de pagar mais taxas para isso.
— Fizemos um plebiscito e a população nos autorizou a aumentar 0,5% da taxa cobrada sobre vendas, que é de 15%, para esses projetos. Esperamos juntar US$ 40 bilhões em 30 anos, e antecipar parte desse dinheiro em pouco tempo para iniciar novos projetos — conta o gerente-executivo da Agência Metropolitana de Transportes de Los Angeles, Hitesh Patel.
No Rio, se o preço da passagem do ligeirão está entre os mais salgados, o carioca terá — se tudo sair como planejado, até 2016 — a segunda maior rede de corredores do mundo, com 153 quilômetros, atrás só da subutilizada malha de Melbourne, na Austrália, com 233 quilômetros para parcos 36,2 mil passageiros por dia. Só a TransOeste, que ligará a Barra da Tijuca aos bairros de Santa Cruz e Campo Grande, terá 64 estações. O projeto foi orçado em R$ 900 milhões.
Ligeirões mundo afora
Brasil
São Paulo: R$ 3 (US$ 1,52), com 38,5 mil passageiros por dia em 10,8km.
Rio de Janeiro: R$ 2,75 (US$ 1,39), com previsão de 220 mil usuários em 56km.
Curitiba: R$ 2,60 (US$ 1,32), com 505 mil usuários em 81,4km.
Goiânia: R$ 2,50 (US$ 1,27), com 240 mil passageiros em 13,5km.
EUA
Los Angeles: US$ 1,50 (R$ 2,94), com 27 mil usuários em 22,9km.
Boston: US$ 1,25 (R$ 2,45), com 29,6 mil usuários em 9,2km.
México
Cidade do México: US$ 0,36 (R$ 0,72), com 760 mil usuários em 95km.
Colômbia
Bogotá: US$ 0,99 (R$ 1,95), com 1,65 milhão de passageiros em 84km.
Chile
Santiago: US$ 1,19 (R$ 2,34), com 2,4 milhões de usuários em 53,5km.
Argentina
Buenos Aires: US$ 0,24 (R$ 0,48), com 100 mil passageiros em 12,5km.
Turquia
Istambul: US$ 0,60 (R$ 1,19), com 700 mil usuários em 45km.
China
Pequim: US$ 0,26 (R$ 0,51), com 200 mil passageiros em 55km.
Guangzhou: US$ 0,31 (R$ 0,62), com 800 mil usuários em 22,5km.
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