Lei que prevê policiais em ônibus não é aplicada meses após aprovação; Rio tem mais de sete mil roubos e furtos em coletivos em 2025
10/10/2025 - G1 Rio
Por Guilherme Peixoto, Lucas Soares, RJ2
Programa aprovado há cinco meses permitiria a presença de policiais nos coletivos da cidade, mas ainda não foi regulamentado. Enquanto isso, motoristas e passageiros enfrentam violência recorrente.
O Rio tem mais de 7 mil registros de roubos e furtos em coletivos só este ano.
Uma lei aprovada em maio pela Alerj, que permitiria a contratação de policiais militares, civis, penais e guardas em dias de folga para atuar nos ônibus, ainda não saiu do papel.
O convênio prevê atuação coordenada entre Estado, prefeituras e Fetranspor, mas a regulamentação da lei ainda não ocorreu.
Enquanto isso, a violência nos ônibus se mantém em patamares preocupantes.

Rio tem quase 7 mil registros de roubos e furtos em ônibus
O Rio tem mais de 7 mil registros de roubos e furtos em coletivos só este ano. Enquanto isso, uma lei aprovada em maio pela Alerj, que permitiria a contratação de policiais militares, civis, penais e guardas em dias de folga para atuar nos ônibus, ainda não saiu do papel.
O convênio prevê atuação coordenada entre Estado, prefeituras e Fetranspor, mas a regulamentação da lei ainda não ocorreu.
Enquanto isso, a violência nos ônibus se mantém em patamares preocupantes. De janeiro a setembro deste ano, criminosos fizeram 129 ônibus de barricadas, superando o total registrado em 2024 (119). Houve 502 mudanças de rotas por causa da violência, mais que o dobro do registrado no mesmo período do ano passado (191). Entre janeiro e agosto, a polícia contabilizou 6.948 roubos e furtos em ônibus, número superior ao mesmo período de 2024 (6.931) e de 2023 (6.783).
A Barra da Tijuca lidera o ranking de ocorrências, com 538 registros, seguida por Madureira (424) e Jacarepaguá (408).
Flagrantes e relatos de passageiros
O RJ2 mostrou o flagrante do momento em que um motorista do Centro do Rio foi atacado por um passageiro armado com uma garrafa quebrada:
“Ele me tirou do banco e disse ‘perdeu, perdeu, perdeu, perdeu’. Só que aí ele tava com o gargalo da garrafa na mão, agarrado, colado no meu pescoço, já tava me arranhando todo. Eu forcei as mãos dele para manter longe do meu pescoço, enquanto ele apertava com aquele gargalo. Resumindo, ele me jogou no chão, pisou no meu peito e deu três murros, três socos na boca. Doeu bastante. Foi quando eu falei: ‘perdi, perdi, perdeu, perdeu, pode levar, pode levar’.”
O motorista, que não quis se identificar por estar traumatizado, teve cortes nas mãos e na garganta.
“Eu botei a mão no pescoço e vi que tava sangrando. No momento, eu tava sangrando muito, acho que devido à adrenalina. Fica traumatizado, é uma sensação de insegurança muito grande”, relatou.
Wendel Bezerra, encarregado de obra, já foi assaltado quatro vezes dentro de coletivos:“Muita violência, ameaça, revólver em cima da gente, muita gritaria. Sensação de fragilidade total, não sabe pra quem recorrer.”
O Rio Ônibus, sindicato que representa as empresas, reforça o impacto da violência sobre motoristas e passageiros:
“Nós temos casos de vários rodoviários afastados do trabalho por questões de estresse e ansiedade. Os que continuam trabalhando atuam sempre com algum medo. Tentamos, junto às autoridades de segurança, trazer medidas que possam dar mais segurança para rodoviários e passageiros”, afirmou Paulo Valente, porta-voz do Rio Ônibus.
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Flagrante de agressão a motorista no Centro do Rio durante assalto
Foto Reprodução/RJ2
Lei ainda aguarda regulamentação
A lei aprovada em maio prevê que sejama locados em ônibus policiais militares, civis, penais e guardas em dias de folga pelo Regime Adicional de Serviço (RAS).
O deputado estadual Luiz Paulo (PSB), autor da lei, explica que a regulamentação deve detalhar locais de atuação, número de policiais, horários e linhas de ônibus:
“Isto é dizer claramente em que manchas criminais, onde tem mais assalto e incêndio de ônibus, vão atuar esses policiais, quantos são, horário de trabalho, em que linhas. Isso tudo é regulamentação — e uma regulamentação até móvel, porque muitas vezes as manchas criminais se alteram.”
Alguns passageiros questionam se a presença de policiais armados seria a melhor solução: “É mais perigoso ainda, vai ter tiroteio, vai pegar quem não tem nada a ver com isso, fica difícil, complicado”, afirmou um auxiliar de serviços gerais.
Enquanto a lei não é regulamentada, motoristas e passageiros seguem vulneráveis à criminalidade dentro dos coletivos do Rio.
O Governo do Estado afirmou que avalia as medidas necessárias para o cumprimento da lei, incluindo a formalização de convênio com a Fetranspor e os municípios. A administração informou ainda que vem intensificando o combate a roubos em coletivos por meio da Polícia Militar, além de ter firmado um protocolo de cooperação com os sindicatos Rio Ônibus e Semove para reforçar a comunicação e prevenir ações criminosas que utilizam os ônibus para bloquear vias públicas.
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