Rodovias Estaduais

Estrada da Polícia

14/03/2022 - Vale do Café

Por Sebastião Deister

Continuando nossa série sobre os caminhos pioneiros que cruzaram as terras onde hoje está o Vale do Café, vamos falar sobre a Estrada da Polícia. Um caminho alternativo à Estrada do Comércio e que seguia quase que paralelamente a ela, com entroncamentos entre as duas em dois trechos muito próximos.

A Estrada da Polícia foi aberta a partir de 1817 e inaugurada em 1820 por ordem do intendente-geral de Polícia, Paulo Fernandes Viana. Daí o nome ser “Estrada da Polícia”. Com mais de 100 Km de trajeto na província do Rio de Janeiro, ela partia do Rio Pavuna, na cidade do Rio de Janeiro e seguia por uma várzea durante pouco mais de 20 quilômetros até começar a subida da Serra do Mar. De lá ia até Sacra Família do Tinguá, Mata Cães e chegava na fazenda de José Rodrigues Alves, onde mais tarde foi fundada a cidade de Vassouras. Dali seguia até a margem do Rio Paraíba do Sul, onde foi construída uma ponte de madeira. Nesse ponto passava pela Fazenda Santa Mônica, que originalmente foi construída pelo Barão de Baependy e seguia subindo para a Valença e Rio Preto em direção às minas. Era praticamente uma estrada paralela à Estrada do Comércio, embora mais extensa e cobrindo as terras de outras localidades que estavam nascendo como Sacra Família do TInguá e Rodeio (atual município de Engenheiro Paulo de Frontin).

A responsabilidade pela construção de uma parte considerável da Estrada da Polícia, em seu trecho final, ficou a cargo do comerciante e minerador Custódio Ferreira Leite, que viria a ser o barão de Aiuruoca, contratado para comandar a abertura. Custódio teve grande importância política no Brasil do início do século XIX. Era irmão de Francisco José Teixeira, que seria no futuro agraciado com o título de barão de Itambé. Itambé era pai do barão de Vassouras (Francisco José Teixeira Leite, que chegou a ajudar o tio na construção da Estrada da Polícia) e avô da grande benemérita de Vassouras, Eufrásia Teixeira Leite.

Assim como a Estrada do Comércio, a Estrada da Polícia teve uma importância muito grande no fortalecimento e expansão da economia cafeeira no Estado do Rio de Janeiro. As duas estradas foram artérias fundamentais de escoamento do café e abastecimento da região serra acima. Foram as mais transitadas, juntamente com as estradas do Rodeio, Presidente Pedreira e do Werneck. Segundo a historiadora Manoela Pedroza, “as novas estradas, inauguradas por Dom João VI e também por Dom Pedro I, seriam identificadas como ‘estradas do café’, pois sua construção incentivou a expansão das grandes fazendas de café subindo a serra e, no sentido oposto, facilitavam o escoamento da produção para o porto do Rio de Janeiro”.

Mas não foi para escoamento do café que ela foi construída. Segundo Tambasco, a estrada da Polícia “foi aberta para proteger o país nas suas fronteiras ao Sul e proporcionar um meio de transporte para o comércio de gados e mulas provenientes desta região, como também propiciar as ligações com o Rio de Janeiro para escoamento de mercadorias de exportação”. A consequência dessa empreitada foi o aumento do fluxo no médio Vale do Paraíba e o aumento da quantidade de assentamentos de pequenos agricultores e meeiros ao longo do caminho (Tambasco, 2004:154).

O brasilianista Stanley Stein que esteve na região pesquisando mais de um século depois da construção da Estrada da Polícia descreveu em seu livro “Vassouras, um município brasileiro do Café” que pela estrada circulavam itens como “Minas de tecido grosso de algodão, toucinho de fumeiro e couro (…) mercadorias secas (fubá, carne-seca, arroz, feijão, bacalhau e queijos), bebidas alcoólicas (aguardente, vinhos), bugigangas (fitas, pentes, carteiras de dinheiro, sabonete perfumado) e mercadorias de ferro (machados, enxadas, podadeiras, panelas de ferro)” e outras mercadorias. Uma curiosidade que merece nota é o fato que tanto a Estrada do Comércio quanto a Estrada da Polícia terem sido articuladas por membros das famílias de dois dos maiores negociantes de escravos no Brasil: a família Carneiro Leão e Pereira de Almeida. Assim como circulavam as mercadorias listadas anteriormente, circulavam também como mercadoria, uma grande quantidade de seres humanos escravizados vindos diretamente da África ou do próprio território brasileiro.  A Estrada da Polícia, teve como responsável por sua construção, Paulo Fernandes Viana, intendente-geral de Polícia da Corte e do Estado do Brasil, nomeado por Dom João VI quando de sua chegada ao Brasil em 1808. Paulo Fernandes Viana era casado com D. Luísa Rosa da Costa Carneiro Leão, filha do Coronel Braz Carneiro Leão e da primeira Baronesa de São Salvador de Campos. Braz era um dos maiores negociantes de escravos do país. Já a Estrada do Comércio teve a articulação de João Rodrigues Pereira de Almeida, o Barão de Ubá, outro grande negociante de escravos




Fontes consultadas:

DEISTER, Sebastião. Dicionário Histórico do do Vale do Paraíba Fluminense. Instituto Histórico e Geográfico de Vassouras (IHGV). Vassouras, 2016.

STEIN. J. Stanley. Vassouras, um município brasileiro do café. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.

TAMBASCO. José Carlos Vargens. A vila de Vassouras e as Freguesias do Tinguá. Vassouras: Edição do Autor, 2004


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