Linhas de ônibus que só existem no papel fazem falta aos cariocas
18/04/2013 - O Globo
Com saída de vans da Zona Sul, coletivos da 505, uma das linhas fantasmas, reaparecem nas ruas
Por Rafael Galdo e Selma Schmidt
Ônibus da linha 505, que só existia no papel
Foto Alexandre Cassiano / Agência O Globo
RIO - Quando o estudante Felipe Ferreira viu, esta semana, um ônibus da linha 505 (Recreio-Gávea) perto de casa, ficou surpreso e correu para a internet para saber que itinerário fazia. Além de cruzar a Avenida Glaucio Gil, no Recreio, onde ele mora, Felipe descobriu que o coletivo passava próximo à sua faculdade, na Barra, e seguia até a Gávea, onde tinha uma prova na quarta-feira.
No ponto final do 505, na Praça Nossa Senhora Auxiliadora, na Gávea, motoristas, cobradores e despachantes também informavam que a linha começou a operar segunda-feira passada, coincidindo com a proibição da circulação de vans em 11 bairros da Zona Sul. Mas a 505 constava no guia do Rio Ônibus (sindicato que reúne as empresas de transporte do município) desde o início da implantação do BRS (Bus Rapid System), em fevereiro de 2011, quando foram criadas linhas auxiliares por toda a cidade.
— Demoramos a encontrar esse ponto final, porque nem conhecíamos o lugar. Começamos aqui esta semana — confirmou na quarta-feira um cobrador da 505.
Ou seja, até a semana passada, ela era uma linha fantasma, que só constava nas listas do Rio Ônibus. Realidade que mudou para os passageiros da 505, mas que continua a atormentar usuários de outras linhas. O itinerário delas aparece no guia do Rio Ônibus e também no site da Fretarnspor (www.vadeonibus.com.br). Porém, não são opção para os passageiros.
É o caso da 504 (Piabas-Gávea, via Avenida Benvindo de Novaes), que, pelo Vá de Ônibus, deveria fazer ponto final também na Nossa Senhora Auxiliadora. Lá, no entanto, passageiros e rodoviários garantem que a linha não circula mais. Já até funcionou, mas desapareceu.
Em mais um indício de que os ônibus da 505 não costumavam circular pela Zona Sul e pela Barra é que, ao menos na quarta-feira, a maioria tinha um detalhe vermelho na pintura, cor dos coletivos que rodam em Santa Cruz e Campo Grande.
Na explicação do Rio Ônibus, a 504 e a 505 são desmembramentos de outras linhas principais, que permanecem operando. Segundo o sindicato, elas foram desativadas, ao ser constatado que as linhas originais atendiam à demanda.
Já no Bairro de Fátima, no Centro, a informação de que a linha 011 (Fátima-Rodoviária) constava na lista do Rio Ônibus causou estranheza à jornalista Maria Helena Santos de Oliveira, moradora da região há quatro anos, que nunca viu um ônibus da 011 por ali. Uma linha, aliás, que faz falta:
— Quando preciso ir para a rodoviária, só tenho o táxi como opção.
Bilhete único: postos em favelas
Já a Transurb alega que não a opera a 011 por conta de uma disputa judicial: uma outra empresa estaria reivindicando o trajeto, que teria sido dela no passado.
Pelo menos mais duas linhas desapareceram sorrateiramente: a 501 (Barra-Gávea, via Avenida das Américas) e a 502 (Recreio-Gávea, via Américas), ambas da Translitorânea. Na Gávea, nenhum passageiro ou rodoviário sabia delas. O Rio Ônibus afirmou que essas linhas também são auxiliares de outras que suprem a demanda. Porém, além de constar dos guias de linhas da internet, até pelo telefone 0800-886-1000, para informações a usuários da Fetranspor, uma atendente confirmou que a 501 continuava circulando.
Apesar disso, linhas desaparecidas como 501, 502 e 504 constavam nos panfletos do Rio Ônibus e da prefeitura que estavam sendo entregues esta semana na Rocinha, para orientar os passageiros sobre que ônibus usar após a proibição das vans.
O secretário municipal de Transportes, Carlos Roberto Osorio, confirma a versão do Rio Ônibus de que linhas criadas após o BRS, como a 505 e a 504, não tinham passageiros e pararam de trafegar. A 505 foi a única que ele determinou que retomasse a circulação, com dez ônibus, após a proibição de vans na Zona Sul.
— A falha que vejo é que linhas que não operam constem de folhetos e de sites do Rio Ônibus e da Fetranspor. Vou pedir para tirar — diz ele.
Sobre a 011, especificamente, Osorio afirma que ela deveria estar trafegando, embora com intervalos longos.
— Não vejo nada que impeça essa linha de rodar. Se não estiver circulando, vou multar o consórcio Intersul e a empresa.
Desde segunda-feira, as vans estão vetadas nos bairros de Botafogo, Humaitá, Urca, Leme, Copacabana, Ipanema, Leblon, Lagoa, Jardim Botânico, Gávea e São Conrado. A exceção são as que interligam a Rocinha e o Jardim de Alah, passando pelo Vidigal.
Entre os usuários, uma das maiores queixas é de ter que pegar duas conduções, em vez de uma van direta. Com os bloqueios criados, vans procedentes de Jacarepaguá e Recreio, por exemplo, só podem ir até a Barra. As que saem da Zona Norte chegam até o Flamengo. Como as vans ainda estão fora do bilhete único, quem precisa usá-las para percorrer parte do trajeto tem de pagar duas passagens.
Osorio determinou ao Rio Ônibus que, na próxima quarta-feira, crie postos na Rocinha e no Vidigal para a compra do bilhete único, por enquanto válido só nos ônibus. As vans dessas favelas também serão as primeiras a receberem validadores do bilhete. De acordo o secretário, em maio será concluído todo o processo de licitação de vans. A partir daí, validadores serão instalados gradativamente nos veículos, começando, em maio, por Vidigal e Rocinha.
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