Tráfico impõe pedágio em terminal na Central do Brasil, e empresas alteram ponto final

03/12/2016 - Extra

Pontos de ônibus vazio após a mudança de local definida pelas empresas
Pontos de ônibus vazio após a mudança de local definida pelas empresas Pontos de ônibus vazio após a mudança de local definida pelas empresas Foto: Guilherme Pinto

Geraldo Ribeiro, Luã Marinatto e Rafaella Barros

Pelo menos sete linhas de quatro empresas de ônibus intermunicipais do Rio transferiram, esta semana, os pontos finais do Terminal Américo Fontenelle, na Central do Brasil, no Centro da capital, para a Rua Acre, a cerca de 1,5km de distância. Segundo rodoviários, o motivo da mudança seria uma recusa das viações em pagar um pedágio de cerca de R$ 5 mil mensais imposto por traficantes do Morro da Providência. Como represália, os bandidos estariam destruindo os ônibus de quem não aceita a condição. Pelo menos sete veículos teriam sido depredados na semana passada. O Detro confirmou as denúncias de vandalismo, e informou ter solicitado reforço policial no local para garantir a operação das linhas.

— Soube que (os bandidos) quebraram vários ônibus. Em um deles, não restou nenhum vidro inteiro. Ouvi dizer que estão cobrando das empresas para parar os carros no terminal e as que não pagarem terão veículos depredados, ou ameaçam levar o motorista para cima do morro. Tenho medo. A gente fica indefeso. Lá não tem nenhuma segurança — diz um motorista de ônibus da linha 572, da empresa Mageli.

O Terminal Américo Fontenelle fica ao lado do Morro da Providência, que conta com uma UPP
O Terminal Américo Fontenelle fica ao lado do Morro da Providência, que conta com uma UPP O Terminal Américo Fontenelle fica ao lado do Morro da Providência, que conta com uma UPP Foto: Guilherme Pinto

O Américo Fontenelle, que fica a poucos metros da sede da Secretaria de Segurança e do Comando Militar do Leste (CML), abriga 54 linhas de ônibus de 17 empresas. Pelo local, circulam 3,1 milhões de pessoas por mês.

— As empresas que não estão mais aqui saíram por livre e espontânea pressão — ironizou um despachante, no terminal, apontando para as paradas vazias, apenas com as placas indicando as linhas.

As empresas não confirmam a cobrança. O Sindicato dos Motoristas, porém, diz ter conhecimento dos rumores sobre a extorsão, ainda que não tenha recebido denúncia formal.

— A questão é de segurança pública. A gente não sabe para onde vai. Até em períodos de normalidade o local é área de risco — afirmou Sebastião José da Silva, vice-presidente do Sintraturb.


PM promete averiguar

Procurada, a PM informou que o comando do 5º BPM (Praça da Harmonia), responsável pela área, não foi informado sobre práticas de extorsão no Américo Fontenelle. O terminal fica ao lado da Providência, onde há uma UPP.

Na mesma resposta, a PM afirmou que o setor de inteligência do batalhão vai atuar para checar a denúncia. Ainda segundo a corporação, “é realizado diariamente o patrulhamento da região, além de operações sistemáticas com o objetivo de reprimir ações criminosas”. Já a Polícia Civil, também acionada, não respondeu ao contato do EXTRA.

— É uma falta de autoridade. O Rio está abandonado. A cidade está nas mãos dos bandidos. As autoridades e as empresas não tomam nenhuma providência e somos nós, os trabalhadores, que pagamos mais uma vez. Esse ponto (na Rua Acre) é horrível. Não tem infraestrutura nem segurança. Aos domingos, isso aqui é um deserto. É muito ruim para nós, passageiros — desabafa a vendedora Ana Paula Lopes, moradora de Coelho da Rocha, em São João de Meriti.

Os pontos foram transferidos para a Rua Acre
Os pontos foram transferidos para a Rua Acre Os pontos foram transferidos para a Rua Acre Foto: Guilherme Pinto

Apesar do policiamento citado pela PM, cenas de violência são comuns no terminal e em seu entorno. É o que relatam aqueles que circulam com frequência pelo local.

— Há pouco tempo, passei ali de manhã com minha mulher e tinha um cara sem camisa, de arma na cintura — conta outro usuário prejudicado pela mudança nos pontos finais.

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