Prefeito alerta para risco de atraso na Linha 4 e propõe corredor de ônibus

20/02/2016 - O Globo

Paes pede o COI que considere possível esquema de contingência pelo município
   
POR ROBERTO MALTCHIK / COLABOROU LUIZ ERNESTO MAGALHÃES  

Obra da Linha 4 do metrô na Barra da Tijuca - Marcelo Carnaval / Agência O Globo

RIO - Em um e-mail enviado na sexta-feira pela manhã ao Comitê Olímpico Internacional (COI), o prefeito Eduardo Paes afirmou que existe um “risco elevado” de a Linha 4 do metrô não ficar pronta para as Olimpíadas, o que comprometeria todo o plano de transportes traçado para os Jogos, que terão início em agosto. Na mensagem, obtida pelo GLOBO e tratada como “estritamente confidencial", Paes pede ao COI que considere a possibilidade de uso de um esquema de contingência elaborado pelo município — esta alternativa consistiria na implantação de um sistema provisório de BRT na Zona Sul.
O principal obstáculo para a entrega da obra dentro do prazo, que termina em julho, seria a demora da União para liberar um novo financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que incrementaria em R$ 1,3 bilhão o orçamento da Linha 4. O gasto total da construção do novo trecho do metrô, a cargo do estado, passaria para R$ 10,3 bilhões, segundo o governo federal.

Em e-mail, pedido de reunião

Email enviado pelo prefeito Eduardo Paes ao COI - Reprodução


O novo trajeto ligará a Praça General Osório, em Ipanema, ao Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca, passando por seis estações. Cinco estariam operando durante a competição (a da Gávea não ficará pronta este ano). A expectativa é que a Linha 4 receba 300 mil passageiros por dia, proporcionando a retirada de dois mil carros das ruas nos horários de pico. Vale destacar que o deslocamento do público das competições olímpicas só poderá ser feito em transportes públicos.

“Nas últimas semanas, estive tentando descobrir o que realmente está acontecendo na construção da Linha 4 do metrô. Prazos e cronogramas... Ouvi de algumas pessoas que o projeto está com nível elevado de risco. Tudo que posso dizer é que a informação não está clara (...). O secretário municipal (de Transportes) Rafael Picciani já preparou uma alternativa, e penso que precisamos começar a estudá-la agora e submetê-la à avaliação do Comitê Olímpico Internacional”, escreveu Paes no e-mail que tem, entre os destinatários, Phillip Bovy, principal consultor do COI para transportes.

Canteiro de obras na estação Antero de Quental - Divulgação/Linha 4

Na mensagem, Paes lembra que Bovy estará segunda-feira no Rio e sugere a realização de uma reunião de emergência para a verificação do que está acontecendo. Ele complementa: “Continuamos trabalhando duro. Posso garantir mais uma vez que todas as entregas sob responsabilidade do município serão feitas no prazo”.

Procurado pelo GLOBO, o comitê organizador Rio-2016 admitiu que conhece o plano de contingência elaborado pela prefeitura. No entanto, informou não ter “elementos para acreditar que o governo do estado não cumprirá seu compromisso de viabilizar o funcionamento do metrô durante as Olimpíadas".

Faixas exclusivas em avenidas

Linha 4 do Metrô, que está sendo construído para ligar a Barra da Tijuca a São Conrado - Márcia Foletto / O Globo

O plano B do município consiste numa expansão provisória do BRT até a Zona Sul, com implantação de corredores exclusivos para ônibus. Assim, em vez de embarcarem no Jardim Oceânico com destino à região, passageiros da Barra da Tijuca entrariam no metrô na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, ou no Jardim de Alah (na divisa com o Leblon). A prefeitura considera a primeira opção a melhor, já que a estação do Jardim de Alah não teria capacidade para absorver uma demanda estimada em 27.800 usuários por dia.

Os corredores provisórios do BRT seriam implantados em vias nas quais estão previstas faixas exclusivas para o deslocamento de delegações olímpicas. Entre elas, o Elevado do Joá e as avenidas Vieira Souto e Niemeyer. As adaptações custariam R$ 7,4 milhões — incluindo gastos para a construção de uma plataforma de 360 metros de extensão para embarque em ônibus na Praça Nossa Senhora da Paz.

A proposta, porém, tem obstáculos a serem superados. A começar pela necessidade de o município dispor de uma frota de 115 ônibus articulados para fazer a ligação Zona Sul-Parque Olímpico, na Barra. Fontes ligadas ao sindicato das empresas do setor adiantaram que não têm recursos para adquirir os veículos nem tempo hábil para encomendá-los.

Ontem, o prefeito Eduardo Paes e o governador Luiz Fernando Pezão preferiram não quiseram dar entrevistas sobre o assunto. Por intermédio de sua assessoria de imprensa, Paes disse que não discutiria documentos de circulação interna. Já o Palácio Guanabara afirmou que a obra da Linha 4 do metrô “segue dentro do cronograma e com previsão de entrega para julho”.

Seis anos de trabalhos e imprevistos

Obras de perfuração do túnel em São Conrado da Linha 4 do metrô em 03/05/2012 - Simone Marinho / O Globo


As dúvidas em relação às obras da Linha 4 do metrô ganham força em um momento no qual o estado negocia com o BNDES um novo financiamento, no valor de R$ 1,3 bilhão, para sua conclusão. A liberação do dinheiro depende de aprovação da Secretaria do Tesouro Nacional. O governador Luiz Fernando Pezão esteve ontem em Brasília para pedir os recursos. A Secretaria estadual de Transportes informou que espera recebê-los até o próximo dia 29.

O estado calcula que, até a inauguração da Linha 4, terá investido R$ 8,5 bilhões no projeto. Já a Concessionária Rio-Barra (que será responsável pela operação do trecho) entra na parceria com R$ 1,2 bilhão.

De acordo com a Secretaria estadual dos Transportes, o cronograma das obras não sofreu alterações e cada etapa de execução do projeto vem sendo acompanhada pelo COI.

Os trabalhos para a implantação da Linha 4 já duram seis anos. As obras começaram em março de 2010, com escavações de túneis na Barra da Tijuca. No fim de 2013, o governo do estado admitiu que não haveria tempo para entregar a estação da Gávea antes das Olimpíadas, que começarão no dia 8 de agosto. A promessa, agora, é terminá-la em 2017.

Em Ipanema, houve um grande contratempo. As manobras do chamado Tatuzão, máquina que escava os túneis da Linha 4, foram suspensas em maio de 2014 devido à abertura de duas crateras na Rua Barão de Ipanema. O equipamento só foi religado seis meses depois.

Em junho de 2015, foi divulgado o primeiro alerta sobre a possibilidade de a Linha 4 não ser concluída a tempo: o Tribunal de Contas do Estado apresentou uma auditoria na qual apontou atrasos nas obras. E, no dia 11 de dezembro, O GLOBO publicou reportagem na qual o secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osorio, deixou claro que o cumprimento de prazos dependia da liberação de R$ 445 milhões do financiamento do BNDES para o projeto e de um acréscimo de R$ 500 milhões para a solução de imprevistos.

O secretário acabou sendo repreendido pelo governador Luiz Fernando Pezão que, no dia 3 de janeiro, negou a possibilidade de atrasos e disse em entrevista ao GLOBO: “O Osorio, se abrir uma geladeira, acha que é flash e começa a falar”.



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