Pezão diz que não há dinheiro e nem prazo para metrô ou BRT em São Gonçalo

12/06/2015 - Extra - RJ



 São Gonçalo, ao que parece, perdeu a barca do desenvolvimento mais uma vez. Não só a barca, mas o metrô, o monotrilho e até o BRT. É que o governador Luiz Fernando Pezão admitiu que a obra do que seria o primeiro sistema de transporte de massa da região — com mais de 1,5 milhão de habitantes — não tem verba e nem prazo para sair do papel.

— Enquanto isso, a cidade está cada vez mais congestionada. A Linha 3 seria o novo vetor econômico. Este governo, que anunciou a obra há menos de um ano, tinha informações que preferiu não contar. E os empresários deram um cheque em branco a quem não tem um orçamento responsável — avalia Evanildo Barreto, presidente da Associação Comercial e Empresarial de São Gonçalo.

Não só omitiram os reflexos da crise, apontada como motivo dos cortes nos investimentos, como reafirmaram o compromisso de fazer a obra. Então candidato a reeleição, Pezão usou a Linha 3 como plataforma de campanha e prometeu o início da intervenção para o segundo semestre do ano passado. Já a presidente Dilma anunciou a verba do metrô em duas visitas à cidade, e deu a obra como pronta no debate do SBT com os presidenciáveis.

— Eu me pergunto o que eles fizeram com o dinheiro dos impostos. Teve verba para fazer estádios — reclama a bancária Flávia Pereira, de 39 anos: — São Gonçalo precisa de um transporte de massa. Prometeram na campanha, venceram para fazer.

O projeto de mobilidade em São Gonçalo é antigo e mudou com o tempo. De metrô virou monotrilho (que seria mais barato) e depois BRT. O próprio governador, no entanto, afirma que o BRT não é opção para substituir a Linha 3. Em até três anos o serviço estaria saturado.

Lenda urbana entre escombros

Pelas ruas da cidade, o metrô sempre foi encarado como lenda urbana. Nem mesmo as recentes desapropriações e demolições na Favela da Linha, no Jardim Catarina, convenceram.

— Vi os tratores entrarem demolindo tudo, mas não acreditei na Linha 3. É promessa de muito tempo. A minha certeza é que a gente seria prejudicado. E fomos. Parentes e amigos foram embora e, sem o metrô, não terei apartamento tão cedo — acredita Fabiana Marcolino, de 39 anos, que trabalha vendendo balas na RJ-104: — Pelo menos minha casa está de pé. A vizinha perdeu a dela e tem que pagar aluguel do próprio bolso.

A favela foi construída sobre os antigos trilhos do ramal de trem que ligava o Barreto, em Niterói, a Visconde de Itaboraí. As 240 famílias foram cadastradas e metade seguiu para conjuntos habitacionais no Jóquei e em Vista Alegre, há um ano. Agora, os moradores que restam temem viver definitivamente entre entulhos.

— A gente escuta essa história de metrô há tanto tempo que é difícil acreditar. Se um dia alguém se importar em fazer, vai ser bom para o povo — diz o vigia Anderson Santana, de 36 anos.

Depois do 2 vem o 4...

Ironicamente, foi no evento teste da Linha 4 (Zona Sul-Barra) que Pezão falou sobre a falta de dinheiro para a Linha 3. Em uma matemática fora de ordem, o governo preferiu entregar o projeto carioca antes do gonçalense, que atenderia mais pessoas por menos da metade do preço: R$ 3,9 bilhões.

Pezão não quis comentar a promessa não cumprida. Deixou que o secretário de Transportes, Carlos Roberto Osório, tentasse manobrar o trem de volta aos trilhos:

— Precisamos de apoio federal. O dinheiro não foi liberado. Seria R$ 1,5 bilhão a fundo perdido, mais R$ 1,5 bilhão de empréstimo ao estado e mais R$ 900 milhões da empresa que vai operar o sistema. A nossa intenção é fazer metrô. O BRT teria que ter duas linhas para dar conta.

O Ministério das Cidades informou que há, sim, previsão de investimento em transporte de grande capacidade na região, mas sem precisar o montante ou de que tipo seria.

Já o Ministério Público Federal diz que a verba foi retida no ajuste fiscal do governo e que só poderia atuar em caso de mau uso do dinheiro.

Coube a Osório também dizer que a barca em São Gonçalo (outra promessa de campanha feita por Pezão) é um sonho distante:

— Não temos um local. O porto de Itaóca fica distante da população.

Memória: uma passagem para a eleição

Desde que o antigo ramal ferroviário da linha Niterói-Visconde de Itaboraí foi desativado, no fim da década de 90, que se ouve falar da Linha 3. O trem, precário, até ensaiou um retorno no início dos anos 2000. Mas, com horários irregulares e sucateado, era utilizado por apenas 180 pessoas por dia.

Desde então, a Linha 3 ganhou força. O primeiro contrato é de 2001 e foi rejeitado pelo TCU, que encontrou sobrepreço. Em 2002, outro contrato foi bloqueado. O projeto foi remodelado diversas vezes e um novo convênio, firmado em 2008, não saiu do papel. Mas ganhou caráter eleitoreiro, sendo anunciado pelo ex-governador Sérgio Cabral, pelo ex-presidente Lula e pelo então secretário de Obras, Pezão, que em 2011 prometeu a obra concluída em 2014.

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