Transcarioca completa 1 ano com altos e baixos, transportando 230 mil passageiros por dia

Para alguns, tempo de viagem foi reduzido no horário de pico. E há quem fique mais de uma hora na fila para ir sentado

POR RENAN FRANÇA

24/05/2015 - O Globo



Na Estação Alvorada, passageiros se espremem para conseguir um lugar num dos veículos do BRT - Marcelo Carnaval / Agência O Globo


RIO - O auxiliar administrativo Thiago Bastos recebeu cotoveladas para conseguir um lugarzinho em pé. A secretária Marisa da Conceição preferiu aguardar 1h20m na fila para garantir um assento. O professor Luiz Ricardo Pessoa diz que passageiros até brigam por espaço. Os personagens mudam, mas o tema dos relatos se repete: a superlotação do BRT Transcarioca em horários de pico.

O problema pode ser constatado facilmente na fila do Terminal Alvorada, na Barra da Tijuca, a partir das 17h. É dali que partem os ônibus do corredor exclusivo prestes a completar um ano em funcionamento, elogiado e, ao mesmo tempo, criticado pelos passageiros. O impasse é o seguinte: o tempo gasto na viagem diminuiu, mas o sufoco aumentou.

VEJA O INFOGRÁFICO SOBRE O BRT

Nos dias úteis, 145 ônibus transportam, em média, 230 mil passageiros diariamente num trajeto de 45 estações entre a Barra e o Aeroporto Internacional Tom Jobim. A demanda alta se comprova quando comparada à de outro corredor. O Transcarioca carrega 50 mil passageiros a mais por dia do que o Transoeste - inaugurado em 2012 -, que liga a Barra a Santa Cruz. No BRT mais novo, a procura vem crescendo porque 86 linhas de ônibus foram extintas. No lugar delas, 46 linhas, batizadas de alimentadoras, foram criadas para percorrer novos itinerários, a fim de levar passageiros de bairros no entorno até as estações. Os usuários, no entanto, dizem que o número de veículos não é suficiente.

— Quem mora próximo às estações sofre com a superlotação do BRT. Para quem ainda precisa pegar uma linha alimentadora, o problema se agrava — explica Paulo Cesar Ribeiro, engenheiro de transporte da Coppe/UFRJ. — O sistema virou refém do próprio sucesso, porque não consegue oferecer um transporte com qualidade na hora em que o trabalhador necessita. Para um ano de funcionamento (o BRT foi inaugurado em 2 de junho de 2014), o sistema foi subestimado.

ESPECIALISTA: DEMANDA ALTA DEMAIS

A Secretaria municipal de Transportes informa que o Transcarioca carrega cerca de 11 mil passageiros por hora em cada sentido durante o rush. Segundo Eduardo Ratton, doutor em planejamento de transportes e professor da Universidade Federal do Paraná, primeiro estado do país a implantar um BRT, a demanda se mostra muito alta para um sistema inaugurado no ano passado:

— O BRT é tolerado para demandas de até 15 mil passageiros por hora em cada sentido. Quando essa marca é atingida, isso indica que o sistema está saturado. No Paraná, estamos nessa média, mas demoramos quase três décadas para atingir esse patamar. O ideal é que o Rio continue investindo na construção de linhas de metrô e que o BRT seja uma alternativa. Se isso não ocorrer, o sistema vai ficar saturado rapidamente.

Para percorrer os 39 quilômetros que ligam a Barra ao Galeão, existem hoje oito tipos de serviço. O mais rápido deles é o semidireto, que percorre toda a linha em cerca de 52 minutos, parando apenas em quatro estações.

Diferentemente do Transoeste, onde o horário de pico se divide em duas horas pela manhã (das 4h30m às 6h30m) e duas à noite (das 17h30m às 19h30m), no Transcarioca os períodos de maior movimento são mais longos. De manhã, os BRTs que saem da Ilha do Governador começam a ficar a abarrotados a partir de Vicente de Carvalho e assim permanecem, entre 6h e 10h, até o ponto final. À noite, no sentido inverso, das 17h às 20h, os coletivos saem cheios do Terminal Alvorada e, a partir de Madureira, começam a se esvaziar.

Entre as 45 estações, há quatro que funcionam como eixos, onde a superlotação fica mais evidente. Uma delas é a de Vicente de Carvalho, a única que faz conexão com o metrô (Linha 2). Entre 17h e 20h, o movimento de passageiros que vão para o metrô ou saem desse meio de transporte em busca de ônibus é intenso. Na estação do BRT, os coletivos param a intervalos de quatro a dez minutos e já chegam lotados. Com isso, muita gente não consegue embarcar, e o problema vira uma bola de neve, pois o próximo ônibus também não conseguirá absorver todos os passageiros que aguardam condução - e a fila só fará aumentar.

O panorama é o mesmo em Madureira, onde há ligação com os trens urbanos. Nas estações de Tanque e Taquara, a dificuldade é que os dois lugares também funcionam como terminal de embarque e desembarque de usuários das linhas alimentadoras.

Os passageiros do BRT embarcam através de quatro portas automáticas que se abrem assim que o ônibus encosta na plataforma. As filas, porém, são desorganizadas, e os fiscais não ordenam os passageiros. Quem deseja embarcar pode levar tempo procurando o fim da fila. Soma-se a isso o descaso com os painéis dentro das estações - eles ficam ligados "uma vez na vida, outra na morte", como resumiu um passageiro. Os dispositivos deveriam informar o tempo de espera pela chegada do próximo ônibus, mas as previsões muitas vezes não se concretizam.

CONSÓRCIO PROMETE MELHORIAS

De acordo com o diretor do Consórcio BRT, Jorge Dias, nos próximos meses haverá mais fiscais para ordenar as filas. Além disso, informa, um novo software deverá diminuir as imprecisões nas previsões de chegada dos ônibus. Ele também ressalta que as estimativas de capacidade do sistema podem ser feitas de várias formas. Segundo Jorge, um sistema de BRT pode variar de acordo com alguns fatores, como o tamanho dos ônibus e o número de faixas usadas pelos veículos.

— Na Colômbia temos um BRT capaz de levar 42 mil passageiros por hora em cada sentido. O BRT é um sistema modular e, de acordo com a demanda, investiremos na inteligência do transporte para ganhar produtividade. Estamos em fase de reavaliação do formato para novas implementações — diz Jorge.

O secretário municipal de Transportes, Rafael Picciani, admite que o sistema precisa de ajustes, mas ressalta que o balanço de um ano é positivo.

— As linhas alimentadoras estão aquém do serviço. O consórcio já foi notificado e multado por isso. A cobrança é permanente - diz Picciani. — Vamos aumentar a frota. Já há 31 ônibus encomendados. É bom lembrar também que o sistema de BRT ganhará no ano que vem o Transbrasil (Deodoro-Centro) e o Transolímpico (Deodoro-Recreio). Isso vai permitir uma migração de passageiros para os dois novos corredores. Os usuários estão felizes de chegar mais cedo em casa depois que começaram a usar o BRT. O ajuste que estamos providenciando é para melhorar o conforto do sistema.
 
SISTEMA RECEBE APROVAÇÃO DE 82%

Prestes a completar um ano de funcionamento, o BRT Transcarioca tem a aprovação de 82% dos usuários, segundo pesquisa feita pelo Datafolha, a pedido do Consórcio do BRT. A aprovação é calculada com base no número de notas 9 e 10 (muito satisfeito), 6 a 8 (satisfeito) e 0 a 5 (insatisfeito). No Transcarioca, 30% dos usuários mostraram-se muito satisfeitos, 52% satisfeitos e 18% insatisfeitos. Para 90% dos entrevistados, a maior vantagem do BRT é o tempo de viagem. Já o principal entrave é a falta de comodidade, citada por 65% dos usuários.

A pesquisa também revela a frequência com que passageiros usam o Transcarioca: 69% dos entrevistados disseram pegar os ônibus do sistema cinco dias ou mais por semana, sobretudo para trabalho (68%). Foram feitas 3.621 entrevistas com usuários.

A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.



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