Teste mostra que conforto é a maior vantagem do BRT no percurso entre Alvorada e Central do Brasil

No entanto, tempo de percurso é parecido com desolacamento em ônibus comum e conexões com trem e metrô

POR ADALBERTO NETO / FÁBIO TEIXEIRA / IGOR MELLO / LUCAS ALTINO / MARCO MOREIRA / MARCO STAMM

21/08/2014 - O Globo

Passageiros esperam para embarcar no Terminal Alvorada, no fim de tarde. Espera pode demorar 15 minutos - Felipe Hanower / Agência O Globo

RIO — Quem mora na Barra nunca sabe ao certo quanto tempo levará para chegar a qualquer outro ponto da cidade. De dois anos para cá, o bairro se encheu de canteiros de obras, o que piorou ainda mais o trânsito, mas, em compensação, a região ganhou dois BRTs: o Transoeste e o Transcarioca. A prefeitura alardeia que, pelo menos na Zona Oeste, os veículos articulados reduziram, e muito, o tempo de viagem de milhares de trabalhadores, especialmente na hora do rush, quando, pelo fato de trafegarem em faixas exclusivas, têm vantagem sobre os demais. Mas e fora dos horários de pico, o BRT já está valendo a pena para o morador da Barra?

Para saber a resposta, O GLOBO-Barra fez um teste. Qual seria a forma mais rápida de se chegar ao Centro da cidade utilizando-se transporte público? Repórteres e fotógrafos percorreram o trajeto Terminal Alvorada-Central de três diferentes maneiras: usando ônibus comum; combinando BRT e metrô; e optando por BRT e trem. Três equipes fizeram o caminho de ida, no dia 5 de agosto, pela manhã; e três, o de volta, no dia 12, à tarde. Ao longo do caminho, ouviram usuários.

LEIA: Repórteres narram suas experiências no teste

O resultado surpreendeu especialistas e revelou gargalos desconhecidos das empresas que administram o transporte coletivo na cidade. No final, a conclusão foi que, fora do rush, o BRT é apenas mais uma opção de transporte público — o que, por si só, é bom. A diferença de tempo entre os percursos foi pequena: variou entre três e 21 minutos. Já a diferença financeira é maior: o trajeto no ônibus comum custa R$ 3, enquanto na composição trem e BRT paga-se até R$ 6,20. Mas o conforto, notaram as equipes, é o trunfo do corredor expresso.

No primeiro teste, três repórteres saíram do Terminal Alvorada às 10h25m. Um pegou ônibus da linha 315, que vai pela Linha Amarela. Os outros dois usaram o BRT Transcarioca: um saltou em Vicente de Carvalho, para pegar o metrô; e o outro seguiu até Madureira, para pegar o trem. O primeiro a chegar à Central foi o que pegou trem, levando 1h30m para completar o trajeto. Três minutos depois, chegou o repórter que combinou BRT e metrô. O último, que foi de ônibus, levou 1h51m. O papel de vilão do trajeto, neste caso, ficou a cargo das obras que fecharam a Avenida Rodrigues Alves, próximo à Rodoviária Novo Rio: foram 38 minutos para vencer apenas 2km.


Na volta, cronometrada a partir das 16h16m, foi a vez de o BRT se mostrar mais lento. O primeiro repórter a saltar no Alvorada havia embarcado no 315 e demorou 1h32m para completar o trajeto. Poderia ter gastado nove minutos a menos se tivesse saltado no ponto anterior, também próximo ao Alvorada. Os outros dois repórteres chegaram praticamente ao mesmo tempo, levando no trajeto 1h34m (trem) e 1h36m (metrô). Os vencedores, neste caso, foram os motoristas do jornal, que em cerca de uma hora de carro chegaram ao Alvorada, indo pelo Alto da Boa Vista ou pela Linha Amarela.

Professor de Engenharia Urbana e Ambiental da PUC-Rio e morador da Barra, Fernando MacDowell se impressionou ao saber que o ônibus 315 venceu o BRT na volta para casa:

— Se a pessoa tem opção de outros tipos de transporte, dificilmente usará o BRT.

José Eugênio Leal, engenheiro de transportes do Centro Técnico Científico da PUC-Rio, avaliou que o BRT não é tão vantajoso fora do rush:

— Seguramente o horário do teste influenciou. Quando todas as estações do Transcarioca estiverem operando, pode haver interferência na via exclusiva (em relação à velocidade de tráfego), mas ela deverá ser menor que nas vias comuns.

Para o especialista, é difícil dizer se o BRT será capaz de manter o conforto apontado pelas equipes quando todas as estações estiverem operando. Leal critica também o projeto de algumas estações:

— Quem vier do Galeão e quiser pegar o metrô em Vicente de Carvalho, por exemplo, terá que andar um bocado e subir escadas com as malas.

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O Consórcio BRT informa que o Transcarioca movimenta cerca de 70 mil pessoas por dia e, diferentemente do Transoeste, tem fluxo constante, sem horário de pico. Com demanda, há partidas a cada dois minutos. A Secretaria municipal de Transportes não respondeu às perguntas do GLOBO-Barra até o fechamento desta edição.

CALOR É O MAIOR VILÃO SOBRE TRILHOS

O principal problema enfrentado pelos usuários dos transportes públicos sobre trilhos pode se resumir a uma palavra: calor. Tanto no trem como no metrô, os repórteres encararam um pouco de verão em pleno inverno. No BRT, o frio ainda impera.

— Aqui o ar-condicionado é forte. Dá até para botar um casaco — elogia o recepcionista Fagner da Costa.

Ele critica, porém, o fato de o BRT semidireto, que faz o trajeto Alvorada-Galeão, não parar na estação da Praça Seca, onde mora. Ele sai do trabalho, no aeroporto, vai de BRT até a Barra e de lá pega um ônibus para a Praça Seca. Resumo: 1h20m no BRT e mais 40 minutos no ônibus, sem contar o tempo de baldeação.

O vigia Vanderson Itamar elogia o serviço do BRT, que aliviou sua jornada. Ela se inicia em Nilópolis, na Baixada Fluminense, e termina no condomínio Nova Barra, no Recreio. A viagem, que atualmente leva três horas, era feita em quatro.

— Agora, eu saio de casa uma hora mais tarde. Tenho mais tempo para ficar com meu filho e construir minha casa — conta.

O Metrô Rio informa que não teve queixas a respeito da temperatura nos trens nos dias dos testes. E a Super Via reconhece que, dependendo do número de passageiros, os vagões ficam mais quentes.

ÔNIBUS MAIS LENTO DEVIDO A OBRAS

Para as equipes que fizeram o trajeto Terminal Alvorada-Central do Brasil na linha 315, os problemas, nos dois sentidos, surgiram quando o ônibus precisou pegar vias alternativas, devido ao fechamento da Avenida Rodrigues Alves nas proximidades da Rodoviária Novo Rio. Na ida, um trecho de dois quilômetros foi percorrido em 38 minutos; na volta, em 21. Os repórteres, porém, podem se considerar sortudos.

— O fechamento da Rodrigues Alves piorou muito o trânsito aqui, neste acesso à Francisco Bicalho. Na hora do rush, não dá para andar. A viagem atrasa muito mais neste trecho — conta o motorista José Natuba, há um ano e oito meses fazendo o trajeto. — A viagem até a Central, partindo do Recreio entre 7h e 9h, pode durar até três horas e meia.

Em outro veículo, a cobradora Maria da Conceição, há 18 anos na profissão, confirma a estimativa do colega:

— Trânsito hoje é imprevisível, não dá para apontar um horário do rush. A viagem dura em média duas horas, às vezes três. Depende do tipo de ônibus, se é automático ou não, e do congestionamento.

Para a Rio Ônibus, porém, o fechamento da Rodrigues Alves não afeta o 315. "Em relação às mudanças viárias que a cidade vem enfrentando, a linha 315 ainda não sofreu, até agora, maiores impactos no seu tempo de viagem." A empresa diz que o trajeto do 315 é realizado em 1h15m ou 1h20m, nos horários de maior movimento: "Fora destes intervalos, a viagem pode ser feita em pouco mais de uma hora, 1h05m".

O passageiro Elivelton Oliveira, porém, afirma o mesmo que Natuba e Maria da Conceição: o trajeto leva, pelo menos, duas horas.

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