Unidos nas ruas, empresários de ônibus viram adversários na Justiça

16/07/2013 - O Globo

Braço financeiro de Jacob Barata, Banco Guanabara, que financia compra de coletivos, processou empresas do setor por inadimplência

LUIZ ERNESTO MAGALHÃES

Ônibus da Translitorânea, uma das empresas processadas pelo Banco Guanabara, por atraso no pagamento de contratos de leasing Pablo Jacob/4-7-2013 / Agência O Globo

RIO - Braço financeiro do empresário Jacob Barata, o Banco Guanabara financia a compra de ônibus para empresas que operam nas ruas do Rio. Mas a relação do empresário conhecido como o "Rei dos Ônibus" com os colegas nem sempre é amistosa. Em 2012, a instituição entrou com quatro ações contra a Translitorânea Turística e a Rio Rotas Transportes e Turismo Ltda., por atraso no pagamento de contratos de leasing — mais um episódio no intricado emaranhado de negócios das empresas do setor na cidade.
A Translitorânea e a Rio Rotas são controladas por Álvaro Rodrigues Lopes e Gabriel Garófalo Lopes. O GLOBO teve acesso aos processos contra a Translitorânea, referentes à compra de dez veículos. Os documentos revelam que a Justiça chegou a bloquear mais de R$ 160 mil das receitas da empresa com o Bilhete Único Carioca e os vales-transporte eletrônicos, que seriam repassadas pela Riocard antes que os empresários e o banco chegassem a um acordo. No fim de 2012, o Banco Guanabara aceitou receber R$ 1,8 milhão em 20 parcelas, e a ação foi suspensa.
No processo, os advogados dizem que pediram o bloqueio das receitas para evitar que os passageiros fossem prejudicados com a apreensão dos coletivos. Mas a cautela não livrou a empresa de outros problemas. Na semana passada, a mesma Translitorânea teve seis linhas cassadas pela prefeitura. A decisão foi tomada porque, segundo a Secretaria municipal de Transportes, a empresa não pôs a frota máxima na rua para atender ao aumento da demanda na Rocinha e no Vidigal após a proibição de circulação de vans na Zona Sul. Uma das empresas acionadas emergencialmente pelo Consórcio Intersul para cobrir os roteiros da Translitorânea foi a Nossa Senhora das Graças, controlada pela família Barata.
Outros documentos da ação chamam a atenção. Originalmente, o contrato de leasing com o Banco Guanabara era com a empresa Amigos Unidos, que, em situação fiscal irregular, não participou da licitação dos ônibus em 2010. As linhas e frotas foram assumidas pela Translitorânea, que, às vésperas da concorrência, admitiu como sócios Alexandre de Vasconcelos Pereira e Maria Manuela Vasconcelos Pereira, que antes controlavam a Amigos Unidos.
A Rio Rotas Transportes opera 14 linhas no Consórcio Santa Cruz, que atua na Zona Oeste (com exceção de Barra e Jacarepaguá). Na região, Álvaro Lopes também é sócio da Andorinha e da Viação Algarve. Nesta última, os caminhos do clã Barata e do empresário voltaram a se cruzar: Álvaro comprou a empresa do Grupo Guanabara. Hoje, a Viação Algarve fornece ônibus para o Consórcio Operacional BRT, formado pela Jabour e pela Pégaso. A família Barata tem 25% das ações da Jabour.
O GLOBO tentou contato com o Banco Guanabara, Jacob Barata e Álvaro Lopes, que não responderam aos pedidos de entrevista. Para Amir Khair, mestre em finanças pela FGV-SP, a expansão dos negócios dos empresários só reforça a necessidade de uma auditoria especializada por parte do poder público. Dessa forma, seria possível acompanhar de perto as finanças das empresas, que acabam se refletindo nas tarifas.

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