Seis linhas de ônibus são cassadas na Zona Sul

05/07/2013 - O Globo

Foi a primeira vez que uma empresa foi puida desde a licitação de 2010 - Agência O Globo

RIO - A prefeitura puniu a empresa Translitorânea com a perda de seis linhas que explorava no consórcio Intersul, que opera os ônibus da Zona Sul do Rio. A medida, determinada por decreto publicado nesta sexta-feira pelo prefeito Eduardo Paes, entra em vigor para linhas que ligavam Rocinha e Vidigal ao resto da Zona Sul. A punição ocorreu porque, desde o dia 15 de abril, a empresa não conseguia cumprir com regularidade a exigência da Secretaria municipal de Transportes de operar com a frota máxima, para atender ao crescimento da demanda por transporte de massa, com a proibição das vans de circularem pela região. É primeira vez que uma empresa perde linhas desde a licitação do sistema, em 2010. O secretário Carlos Roberto Osorio não descarta outras punições por reclamações recebidas, principalmente na Zona Oeste.

Os roteiros operados pela Translitorânea serão assumidos por outras empresas do consórcio Intersul, mas serão alterados em até 30 dias. Os novos itinerários serão discutidos com moradores da Rocinha e Vidigal para racionalizar o serviço com a criação de novas linhas. Nesta quinta-feira, boa parte dos veículos das linhas 521 (São Conrado-Botafogo, via Copacabana) e 522 (São Conrado-Botafogo, via Jóquei) já eram operados pela Real e pela Viação Nossa Senhora das Graças (antiga Viação Saens Peña) porque o consórcio foi comunicado previamente da decisão para evitar a falta de ônibus. A medida atinge ainda as linhas 546 (Rocinha-Leblon), 591 (Leme- São Conrado, via Copacabana e Rocinha), 592 (São Conrado Leme-Rocinha) e 593 (Leme-São Conrado, via Rocinha).

O consórcio também foi punido por problemas operacionais com uma multa de R$ 447,8 mil, que ainda está em fase de recurso. A comprovação da irregularidade dos serviços foi verificada pelos técnicos da prefeitura pelo GPS instalado nos veículos, que indicava em tempo real a quantidade que estava em operação, por dia e hora, nos últimos meses. Apesar da punição, a Translitorânea continuará operando seis linhas do Intersul.

Mudam os nomes, não os donos

A concentração do sistema de ônibus em poucos grupos, que andam de mãos dadas, também faz com que seja difícil saber se haverá alguma mudança na prática. A Translitorânea, controlada pelo empresário Álvaro Rodrigues Lopes, possui 8,27% do consórcio Intersul, cuja fatia maior está com Jacob Barata, considerado o "Rei dos Ônibus" do Rio, com 41,9% divididos em cinco empresas. Jacob tem relação direta com Álvaro em pelo menos um outro consórcio, o Operacional BRT, criado recentemente sem licitação, responsável atualmente pelo Transoeste. Ele tem 25% de participação na empresa Jabour, que divide o controle do corredor expresso com a Pégaso. As duas empresas, por sua vez, contrataram a Algarve, de Álvaro, para fornecer parte da frota de ônibus articulados do sistema.

As relações entre os dois empresários não param por aí. A própria Algarve foi adquirida por Álvaro Lopes de Jacob em 2006. Apesar de estar perdendo força na Zona Sul, Álvaro é forte no consórcio Santa Cruz (possui 35,5% de participação), que na licitação de 2010 ficou com toda a Zona Oeste, com exceção das regiões da Barra e de Jacarepaguá.

Outra curiosidade nessa intricada relação empresarial é o perfil da própria Translitorânea. Antes da licitação, boa parte das linhas que perdeu agora na Zona Sul pertenciam à Viação Amigos Unidos S/A. Em situação fiscal irregular, a empresa, que também era alvo de reclamações dos usuários, não participou da concorrência. Às vésperas da licitação, Alexandre de Vasconcelos Pereira e Maria Manuela Vasconcelos Pereira, acionistas majoritários da Amigos Unidos, foram admitidos como sócios da Translitorânea, que promoveu um aumento do capital social. Alexandre e Maria passaram a deter 48% das ações, enquanto Álvaro Lopes permaneceu como majoritário.

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