09/01/2013 - O Globo
Engenheiro vê problemas na elaboração ou na execução do projeto, além de negligência na fiscalização
Defeitos no BRT. O engenheiro Antônio Eulálio mostra uma manilha num trecho em Guaratiba: segundo ele, há problemas no sistema de drenagem da via Gabriel de Paiva / O Globo
RIO — Os problemas do BRT Transoeste, que vão desde buracos no asfalto à falta de um sistema de drenagem, são consequência de falhas na elaboração ou na execução do projeto, somadas à negligência do poder público, segundo o engenheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) Antônio Eulálio Pedrosa Araújo, especialista em pontes e grandes estruturas. A pedido do GLOBO, ele percorreu na quarta-feira a via para fazer uma avaliação técnica da obra. O engenheiro afirmou que o terreno é ruim, mas garantiu que, se a obra tivesse sido feita corretamente, os buracos não teriam aparecido pouco mais de seis meses após a inauguração.
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— A engenharia resolveria — disse o especialista.
Asfalto está afundando
Ele apontou o trecho a partir da Grota Funda, em direção a Santa Cruz, como o pior. Mas basta um olhar atento para perceber que, mesmo no melhor trecho do BRT, entre a Barra e o Recreio, o asfalto já começa a afundar em alguns pontos.
Na avaliação do especialista, somente uma auditoria independente poderia dizer quem tem razão nesse jogo de empurra entre a prefeitura e a Sanerio, responsável por parte da obra, onde surgiram buracos. Ele disse que houve negligência na fiscalização por parte do município e também da empresa, que alega ter sido obrigada a acelerar o serviço, mas não registrou oficialmente os riscos de se fazer esse trabalho às pressas.
— É uma questão de responsabilidade técnica. Um registro em livro dos riscos que isso acarretaria resolveria a polêmica — disse o engenheiro.
Ele afirmou que três estudos são fundamentais, o ponto de partida de qualquer obra do tipo: topográfico (levantamento do comportamento do solo), hidrológico (dados pluviométricos da região) e geológicos (plano de sondagem para avaliar a permeabilidade do solo, entre outros itens). Segundo Antônio Eulálio, "a água é a maior inimiga da engenharia".
— Não fiscalizei a obra e não tenho como dizer se fizeram esses projetos, mas são estudos essenciais, que demoram em média três meses. Muitas vezes, na pressa, deixam de ser feitos. Uma coisa é certa: se tivessem feito tudo corretamente, os buracos não estariam surgindo. Esta é uma área de muita chuva.
Ele também apontou possíveis problemas de drenagem.
— O asfalto não pode ser colocado diretamente no solo. Na minha opinião, houve falha na drenagem, e falta a camada de resistência, que distribui melhor a carga. Percebe-se que os buracos estão abrindo justamente onde passam os pneus dos ônibus — observou o especialista, mostrando o problema em vários trechos.
Na altura da estação Pingo D'Água (Guaratiba), a água é escoada para uma manilha que fica do outro lado da pista do BRT, junto ao meio-fio:
— Aqui, neste ponto, não há drenagem superficial, e não noto drenagem profunda. Mas é preciso ter os dois sistemas. Apenas essa manilha não dá vazão. A água terá que se infiltrar, e isso prejudica o pavimento, enfraquece a resistência do leito e do subleito da estrada. Por isso, a roda do ônibus vai afundando o piso.
Sugestões serão seguidas
Para Antônio Eulálio, o serviço tapa-buraco da prefeitura tem prazo de validade:
— Isso não vai resolver. Quando chover, os buracos vão reabrir. É jogar dinheiro fora. O certo seria tirar tudo e refazer o trecho, compactando a camada.
A Secretaria municipal de Obras informou que vai adotar as recomendações feitas pelo engenheiro do Crea. O órgão esclareceu que elaborou um relatório técnico indicando vícios construtivos nas obras de implantação do corredor Transoeste. O documento foi encaminhado, em setembro passado, às construtoras responsáveis pelos lotes 1, 2 (Odebrecht) e 3 (Sanerio), apontando as imperfeições que deviam ser corrigidas dentro da garantia de obra, conforme previsto em contrato firmado entre as empresas e o município, com base na Lei das Licitações. O trâmite é essencial para que as construtoras recebam o documento de aceitação provisória da obra, atestando que ela foi entregue de acordo com os requisitos da fiscalização da prefeitura.
A Odebrecht, acrescentou a secretaria, executou os reparos no prazo fixado e recebeu a aceitação provisória da prefeitura em 19 de dezembro. Já a Sanerio não fez as intervenções. Anteontem, a Secretaria de Obras publicou um memorando de advertência à empresa, com o prazo de 48 horas para que os reparos sejam iniciados. Segundo nota do órgão, uma vistoria indicou a necessidade "de correções em sarjetas, na pavimentação e na faixa segregada para o BRT ao longo de todo o terceiro lote. Especificamente na estação Pingo D'Água, a fiscalização (...) exige que a empresa execute novamente o serviço de drenagem, para solucionar o ponto de alagamento constatado". Por causa do problema, acrescentou a secretaria, "o pagamento dos 10% da retenção contratual (cerca de R$ 10 milhões) não foi efetuado à empreiteira, que tem 30 dias para executar todos os ajustes, dentro da garantia de obra, sem ônus adicionais para os cofres municipais".
Engenheiro vê problemas na elaboração ou na execução do projeto, além de negligência na fiscalização
Defeitos no BRT. O engenheiro Antônio Eulálio mostra uma manilha num trecho em Guaratiba: segundo ele, há problemas no sistema de drenagem da via Gabriel de Paiva / O Globo
RIO — Os problemas do BRT Transoeste, que vão desde buracos no asfalto à falta de um sistema de drenagem, são consequência de falhas na elaboração ou na execução do projeto, somadas à negligência do poder público, segundo o engenheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) Antônio Eulálio Pedrosa Araújo, especialista em pontes e grandes estruturas. A pedido do GLOBO, ele percorreu na quarta-feira a via para fazer uma avaliação técnica da obra. O engenheiro afirmou que o terreno é ruim, mas garantiu que, se a obra tivesse sido feita corretamente, os buracos não teriam aparecido pouco mais de seis meses após a inauguração.
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— A engenharia resolveria — disse o especialista.
Asfalto está afundando
Ele apontou o trecho a partir da Grota Funda, em direção a Santa Cruz, como o pior. Mas basta um olhar atento para perceber que, mesmo no melhor trecho do BRT, entre a Barra e o Recreio, o asfalto já começa a afundar em alguns pontos.
Na avaliação do especialista, somente uma auditoria independente poderia dizer quem tem razão nesse jogo de empurra entre a prefeitura e a Sanerio, responsável por parte da obra, onde surgiram buracos. Ele disse que houve negligência na fiscalização por parte do município e também da empresa, que alega ter sido obrigada a acelerar o serviço, mas não registrou oficialmente os riscos de se fazer esse trabalho às pressas.
— É uma questão de responsabilidade técnica. Um registro em livro dos riscos que isso acarretaria resolveria a polêmica — disse o engenheiro.
Ele afirmou que três estudos são fundamentais, o ponto de partida de qualquer obra do tipo: topográfico (levantamento do comportamento do solo), hidrológico (dados pluviométricos da região) e geológicos (plano de sondagem para avaliar a permeabilidade do solo, entre outros itens). Segundo Antônio Eulálio, "a água é a maior inimiga da engenharia".
— Não fiscalizei a obra e não tenho como dizer se fizeram esses projetos, mas são estudos essenciais, que demoram em média três meses. Muitas vezes, na pressa, deixam de ser feitos. Uma coisa é certa: se tivessem feito tudo corretamente, os buracos não estariam surgindo. Esta é uma área de muita chuva.
Ele também apontou possíveis problemas de drenagem.
— O asfalto não pode ser colocado diretamente no solo. Na minha opinião, houve falha na drenagem, e falta a camada de resistência, que distribui melhor a carga. Percebe-se que os buracos estão abrindo justamente onde passam os pneus dos ônibus — observou o especialista, mostrando o problema em vários trechos.
Na altura da estação Pingo D'Água (Guaratiba), a água é escoada para uma manilha que fica do outro lado da pista do BRT, junto ao meio-fio:
— Aqui, neste ponto, não há drenagem superficial, e não noto drenagem profunda. Mas é preciso ter os dois sistemas. Apenas essa manilha não dá vazão. A água terá que se infiltrar, e isso prejudica o pavimento, enfraquece a resistência do leito e do subleito da estrada. Por isso, a roda do ônibus vai afundando o piso.
Sugestões serão seguidas
Para Antônio Eulálio, o serviço tapa-buraco da prefeitura tem prazo de validade:
— Isso não vai resolver. Quando chover, os buracos vão reabrir. É jogar dinheiro fora. O certo seria tirar tudo e refazer o trecho, compactando a camada.
A Secretaria municipal de Obras informou que vai adotar as recomendações feitas pelo engenheiro do Crea. O órgão esclareceu que elaborou um relatório técnico indicando vícios construtivos nas obras de implantação do corredor Transoeste. O documento foi encaminhado, em setembro passado, às construtoras responsáveis pelos lotes 1, 2 (Odebrecht) e 3 (Sanerio), apontando as imperfeições que deviam ser corrigidas dentro da garantia de obra, conforme previsto em contrato firmado entre as empresas e o município, com base na Lei das Licitações. O trâmite é essencial para que as construtoras recebam o documento de aceitação provisória da obra, atestando que ela foi entregue de acordo com os requisitos da fiscalização da prefeitura.
A Odebrecht, acrescentou a secretaria, executou os reparos no prazo fixado e recebeu a aceitação provisória da prefeitura em 19 de dezembro. Já a Sanerio não fez as intervenções. Anteontem, a Secretaria de Obras publicou um memorando de advertência à empresa, com o prazo de 48 horas para que os reparos sejam iniciados. Segundo nota do órgão, uma vistoria indicou a necessidade "de correções em sarjetas, na pavimentação e na faixa segregada para o BRT ao longo de todo o terceiro lote. Especificamente na estação Pingo D'Água, a fiscalização (...) exige que a empresa execute novamente o serviço de drenagem, para solucionar o ponto de alagamento constatado". Por causa do problema, acrescentou a secretaria, "o pagamento dos 10% da retenção contratual (cerca de R$ 10 milhões) não foi efetuado à empreiteira, que tem 30 dias para executar todos os ajustes, dentro da garantia de obra, sem ônus adicionais para os cofres municipais".
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