Especialista acredita que proibição de vans pode ter impacto positivo no trânsito da Zona Sul


12/04/2013 - O Globo


Prefeito Eduardo Paes vai retirar as vans da Zona Sul a partir de segunda feira (Marcos Tristão / Agência O Globo)

RIO - A partir de segunda-feira, vans e Kombis que fazem transporte de passageiros serão proibidas de circular em 11 bairros da Zona Sul. O decreto do prefeito Eduardo Paes foi publicado na quinta-feira no Diário Oficial, como noticiou a coluna de Ancelmo Gois. Segundo a prefeitura, o Centro será a próxima região que terá restrição a vans, mas não foi informado quando isso acontecerá. Para o professor de Engenharia de Transportes da PUC-Rio, José Eugenio Leal, a proibição de vans na Zona Sul pode trazer impacto positivo para o trânsito da Zona Sul.

— Naquela região, a van não tem um papel grande. Existem outras alternativas, exceto na Rocinha e no Vidigal, onde seguem liberadas as vans. Acredito que a medida possa reduzir alguns conflitos de transporte, como as paradas em pontos de ônibus, ou as paradas desses veículos em qualquer lugar. O impacto nesse sentido deve ser positivo. Nas regiões onde existe uma dependência grande das vans, como Ilha do Governador e Campo Grande, por exemplo, é preciso uma transição para o transporte público absorver a demanda de passageiros.

Motoristas do transporte estão apreensivos com a decisão. José Ribamar, que faz a linha São Conrado-Leme, observou que a decisão poderá causar desemprego:

— Estou indignado. Trabalho com transporte de vans desde 1996 e ainda nem sei qual vai ser o tamanho do meu prejuízo.

O diretor jurídico do Sindicato dos Permissionários dos Serviços de Transporte de Passageiros e Comunitário do Rio (Sindvans), Guilherme Biserra, afirma que a categoria está estudando uma forma de suspender o decreto.

— Vamos nos posicionar junto à prefeitura no sentido de propor a suspensão desse decreto. Não vai prejudicar apenas operadores do sistema, vai prejudicar muito a população dessas regiões. Considerando os veículos que rodam na região, teremos mais de 500 retirados de operação. Cada veículo transporta em média 200 passageiros por dia. Isso significa 100 mil viagens a menos todos os dias, o que é suficiente para criar um caos naquele corredor.

Usuários de vans se dividem em relação à decisão da prefeitura.

— Essa medida é um absurdo — critica Kátia Santos, de 47 anos, que na quinta-feira embarcou numa van no Leme.

O vendedor Giovanni Michelino, de 42 anos, que mora na Rocinha e trabalha em Ipanema, argumenta que, a partir de segunda-feira, terá que desembarcar no Jardim de Alah e pegar outro transporte para seguir até o trabalho.

— Vou gastar mais, porque a van não aceita o Bilhete Único. Na volta, os ônibus vão ficar insuportáveis, porque o fluxo de pessoas saindo da Zona Sul em direção a São Conrado é grande.

Já o estudante de direito Breno Akherman, que mora no Leme e estuda no Centro, defende a decisão:

— Particularmente aqui no Leme, as vans quebram o maior galho. Mas acho um transporte perigoso, e os carros estão todos quebrados. Prefiro seguir de ônibus — disse o jovem enquanto fazia sinal para um coletivo da linha 472 (Leme-Triagem) que não parou no ponto.

A medida foi tomada 12 dias depois de uma americana ter sido estuprada e seu namorado agredido dentro de uma van após embarcarem em Copacabana. O prefeito, no entanto, sustenta que o decreto já estava previsto para ser publicado em abril e que os últimos episódios só reforçaram a sua decisão. A proibição faz parte de um pacote de ações para regulamentar esse tipo de transporte, mas outras etapas ainda não aconteceram, como a redução da atual frota de 6 mil para 3.502 vans.

— Estava no plano de voo. A previsão era abril mesmo. Eu não estou aqui para dizer que todas as pessoas que operam vans são marginais. Ao contrário, a maioria é gente de bem. Mas, em algum momento, isso virou caso de polícia. Foi então que criamos uma coordenadoria especial para tratar dessa questão — afirma Paes.

Segundo o prefeito, as linhas de vans que operam no Vidigal e na Rocinha serão licitadas e farão a ligação dessas comunidades com o Jardim de Alah:

— A Zona Sul já tem bastante transporte. Tem ônibus, metrô e táxis. É uma área da cidade que não precisa de vans. A van é um transporte complementar e tem que cobrir as áreas onde o serviço de transporte modal não atende.

Regulamentação prevista para maio

O coordenador especial de Transporte Complementar do município, Cláudio Ferraz, explicou que em outras áreas da Zona Sul as vans continuarão circulando. Como nos bairros de Flamengo, Laranjeiras, Glória e Catete.

— A proibição é para o trecho que vai de Botafogo até São Conrado. Essa medida já fazia parte do processo para normatização do transporte na cidade. Os acontecimentos recentes e o resultado das operações de fiscalização, nas quais apreendemos 600 veículos irregulares em apenas um mês, acabaram precipitando as coisas.

Segundo Ferraz, a implantação do Sistema de Transporte Público Local (STPL), com a licitação de novas linhas e a redução do número de vans, está prevista para o mês que vem. A proibição deverá ser estendida a outras áreas, como as vias expressas. Ainda de acordo com o coordenador, a fiscalização seguirá o padrão que já vem sendo adotado, com apoio do Detro, da Polícia Militar, do Detran e da Guarda Municipal. Os fiscais ficarão nos principais acessos à Zona Sul.

— Estamos estudando as medidas que vamos adotar — afirma Ferraz.

Comentários