11/04/2013 - O Globo
Velocidade. Motoristas aceleram acima do permitido na Avenida Ayrton Sena Pedro Teixeira / Pedro Teixeira
Quem depende do transporte público na Barra e no Recreio se submete a uma rotina de aborrecimentos, causada pela ineficiência. São atrasos frequentes, desvios de trajeto e viagens desconfortáveis, seja pelos assentos precários, pela superlotação ou pelo medo de acidentes, devido a excesso de velocidade e manobras perigosas. A equipe do GLOBO-Barra ouviu passageiros e flagrou vários problemas: motoristas usando a pista central (proibida ao transporte público), parando fora do ponto, ignorando acenos. Para o morador da Barra e especialista em transportes Fernando MacDowell, a qualidade do serviço está comprometida:
— O Rio já foi exemplo em transporte público; hoje o sistema está em crise. Há redução do número de veículos das linhas, deixando o usuário na mão. E ainda é preciso investir muito em fiscalização. Se não, já imaginou a imagem ruim que o transporte da Barra e do Recreio, por exemplo, deixará nos visitantes dos grandes eventos? Se nem quem mora ou trabalha aqui está satisfeito, é sinal de que não estamos preparados para atender turistas.
A Secretaria municipal de Transportes informa que está investindo numa plataforma tecnológica para melhorar a fiscalização. Com ela, a partir das informações do GPS, aparelho obrigatório nos ônibus da cidade, a prefeitura poderá verificar, remotamente, frequência, itinerário, quantidade de veículos por linha e velocidade da frota.
A secretaria reforça que a fiscalização se baseia nas reclamações feitas por meio do telefone 1746. Já o Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio, o Rio Ônibus, diz que a má qualidade do serviço é consequência das muitas obras na região, que causam congestionamentos e afetam a conservação dos veículos. O órgão diz que vem conversando com o poder público sobre estas dificuldades, e acredita que a inauguração do BRT Transcarioca, previsto para janeiro de 2014, ajudará a resolver o problema.
Usuários ficam em pé
Mudar o trajeto é prática de alguns motoristas da linha 525 (integração Metrô-Barra). Segundo relatos de usuários, eles evitam passar pela Avenida Ayrton Senna por causa dos congestionamentos, irritando dezenas de pessoas e atrasando sua volta para casa.
— Ao chegar no ponto em frente ao BarraShopping, o motorista perguntou ao trocador se havia alguém para descer no ponto em frente à Leroy Merlin. Se não houvesse, ele iria direto para o Terminal Alvorada, desviando pelo mergulhão em frente à Cidade das Artes. Como eu estava próxima, informei que desceria ali. Ou seja, se eu não estivesse no ônibus, o motorista iria ignorar os possíveis passageiros que poderiam estar esperando naquele ponto — conta a passageira Vania Furtuna.
Outra reclamação é a falta de linhas para Zona Sul. Mas, de acordo com a Secretaria municipal de Transporte das 74 linhas que operam na Barra, 32 seguem para a região. Apesar de a linha 525 operar com 11 ônibus, mantendo intervalos de 15 a 20 minutos entre eles, segundo a Rio Ônibus, O GLOBO-Barra constatou que usuários como Átila Xavier, outro usuário da 525, aguardam pelo veículo por mais de 50 minutos em horários de rush.
À falta de ônibus, passageiros recorrem às vans.
— Quase todos passam lotados e demoram demais; por isso, há sete anos vou trabalhar de van — conta Paulo Maselli, que pega condução no Largo de Jacarepaguá.
Parada irregular
Enquanto aguardava pela linha 896 (Pingo D’Água-Barra da Tijuca), a passageira Maria de Lurdes Souza comentava sobre o excesso de velocidade e as paradas que alguns deles fazem na pista central da Avenida das Américas, onde é proibida a sua circulação. O GLOBO-Barra flagrou a correria perigosa de passageiros que atravessam a pista lateral rapidamente para tentar alcançar os coletivos que param fora da baia.
A má conservação, outra queixa dos usuários da 896, também é comum nas linhas 382 (Recreio-Carioca) e 360 (Piabas-Carioca).
— Os ônibus da Pégaso (operadora das linhas) estão sucateados: faltam assentos, as barras de segurança estão quebradas, há pneus carecas, os freios falham — reclama o usuário Albano Menezes.
A Rio Ônibus diz que a Pégaso faz manutenção constante da frota e, como as outras linhas, sofre com as obras na região.
Passageiros na poeira
Pelo Terminal Alvorada transitam 51 linhas — entre as que passam e as que fazem ponto final no local. Com as obras de cobertura e passagem inferior do terminal e a construção das instalações do Centro de Controle Operacional, os passageiros penam com o acúmulo de entulho, a poeira, a ausência de lixeiras, a inexistência de assentos para tornar a espera mais confortável e a confusão provocada pelo grande número de veículos concentrados no mesmo local.
— Temos que esperar pelo ônibus em péssimas condições. As obras devem ocorrer, mas é possível fazer isso oferecendo um mínimo de atenção ao usuário. Não há calçada para chegar ao terminal, o lixo está por todos os lados e nunca sabemos ao certo se o ônibus vai parar no ponto em que estamos aguardando por ele — diz Rodrigo Pontes.
O local é peça-chave no serviço do transporte público da região, sendo ponto de integração entre o Transoeste (já em operação) e o Transcarioca. No futuro, além da ligação dos corredores expressos de BRT, o terminal vai receber todo o transporte de ônibus da Zona Oeste.
A Secretaria municipal de Obras informa que as obras terminam ainda este semestre.
Lotação e espera
No fim de março, a prefeitura multou o BRT Transoeste em R$ 50 mil, por operação em intervalos irregulares e problemas operacionais e de conservação nas estações, entre outros motivos. Os técnicos também identificaram, em horários de pico, níveis de conforto inadequados nas estações Santa Cruz, Magarça e Mato Alto.
— Usei no início o BRT para nunca mais. A superlotação e a falta do cumprimento do horário são problemas rotineiros. Eu prefiro pegar dois ônibus, devido à falta de opção de linhas, a usar esse transporte — diz Celso Silva, morador de Santa Cruz.
De acordo com a Secretaria municipal de Transporte, não houve redução de linhas de ônibus com a implantação do BRT Transoeste, que chega ao Terminal Alvorada e já proporcionou uma melhora na oferta de transporte público entre Barra e Santa Cruz. Até 2016 serão inaugurados os BRTs Transolímpico e Transcarioca. Já o BRT Transoeste deverá ser integrado à Linha 4 do metrô, no Jardim Oceânico.
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