Quase sete meses após inauguração, estações do BRT ainda não foram abertas

09/01/2013 - O Globo

Recanto das Garças e Dom Bosco, no Recreio, foram construídas sem que houvesse demanda

Luiz Ernesto Magalhães

Deserto. A estação Recanto das Garças, no Recreio, uma das 53 do BRT Transoeste: pronta, mas ainda fechada Custódio Coimbra / O Globo

RIO Como se não bastassem os buracos na pista, o BRT Transoeste, inaugurado pela prefeitura em junho passado como aposta para reorganizar o transporte público do Rio, conta com instalações fantasmas. Passados sete meses do início dos serviços, as estações Dom Bosco e Recanto das Garças, que ficam nos trechos menos urbanizados da Avenida das Américas no Recreio dos Bandeirantes, jamais funcionaram, embora já estejam equipadas. A Secretaria municipal de Transportes informou na terça-feira não saber quando elas serão abertas e reconheceu que o principal problema é a falta de demanda.

Ao todo, o BRT Transoeste conta com quatro estações no trecho entre o Recreio Shopping e os acessos ao Túnel da Grota Funda. As outras estações da área são a Notre Dame e o Pontal, que funcionam normalmente para atender moradores de condomínios, uma escola e lojas que já se estabeleceram na região há alguns anos. Em frente à estação Dom Bosco, por exemplo, só existem terrenos vazios. O Frames Residence, primeiro grande empreendimento imobiliário anunciado na área, com 720 apartamentos e 25 lojas, está previsto para ser concluído em 2017.

Obra já custou R$ 933 milhões

Segundo o site Cidade Olímpica, os investimentos nos trechos já construídos do Transoeste (Barra-Campo Grande/Santa Cruz) já chegam a R$ 933 milhões, entre obras viárias, desapropriações e construção e montagem de 53 estações. O custo médio de cada estação é estimado em cerca de R$ 1 milhão. Os gastos até 2016 devem chegar a R$ 1 bilhão com a expansão do Transoeste. A prefeitura pretende ampliar o corredor para levar o BRT do Terminal Alvorada à estação Jardim Oceânico do metrô, prevista para ser aberta às vésperas das Olimpíadas.

Repórteres do GLOBO visitaram na terça-feira as duas estações fechadas. Na Recanto das Garças, até mesmo a TV já está ligada, mas apenas um vigia permanecia na terça-feira no local. A porta estava aberta, mas foi logo fechada pelo funcionário quando percebeu a aproximação dos repórteres. Já na Dom Bosco, os equipamentos ainda estão empacotados. Sem necessidade de pegar passageiros nesses terminais, nem mesmo os motoristas dos ônibus articulados que operam os BRTs respeitam a sinalização de pedestres.

Atravessar perto das estações fechadas é um perigo. Os motoristas partem do princípio de que não há passageiros e não param nem no sinal comentou a publicitária Lucia Miller.

Na estação Recanto das Garças, está tudo pronto. As cadeiras já estão instaladas, e as televisões, ligadas. Ela fica a menos de 500 metros da Notre Dame, aberta aos passageiros.

Na terça-feira, operários da Secretaria municipal de Conservação tapavam buracos abertos na pista do Transoeste em Guaratiba. Pelo Diário Oficial, a prefeitura intimou a empresa Sanerio Engenharia responsável pela construção do trecho a sanear essas e outras falhas de projeto num prazo de 48 horas. Caso não cumpra a medida, a empreiteira pode ser multada ou até mesmo proibida de firmar contratos com o setor público. Segundo a prefeitura, a advertência foi dada porque a empresa teria ignorado ofício encaminhado em setembro do ano passado. No documento, fiscais contratados pelo município identificaram falhas na execução do projeto e determinaram que fossem corrigidas. De todas as empreiteiras notificadas, porém, apenas a Sanerio não teria cumprido a determinação.

Segundo a Secretaria de Obras, as despesas com a operação tapa-buracos serão descontadas dos cerca de R$ 11 milhões que a empreiteira ainda tem a receber do município. A Sanerio informou que vai executar os reparos. Mas alegou não poder garantir que irá começar os consertos no prazo determinado. Isso porque depende de a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio) autorizar a interdição da pista.

Comentários