Rio em mutação: nova via expressa já rasga a Zona Oeste

01/08/2011 - O Dia, Christina Nascimento

Transoeste ocupa lugar de cinco favelas e túnel da Grota Funda toma forma. Moradores da Barra da Tijuca e Recreio rejeitam a obra

Primeiro dos quatro corredores de ônibus a ser inaugurado, a Transoeste - que liga a Barra da Tijuca a Santa Cruz - já começou a mudar os bairros que serão cortados pelo BRT. Cinco favelas no Recreio e em Guaratiba deixaram de existir. No lugar onde estavam, começa a aparecer o alargamento da Avenida das Américas e o viaduto no entroncamento com a Avenida Salvador Allende para chegar ao Túnel da Grota Funda.

O corredor vai provocar a racionalização da frota de ônibus na região. A Secretaria Municipal de Transportes adiantou que 40% das linhas, como Barra-Santa Cruz e Barra-Campo Grande, serão transferidas para o sistema BRT. Mas a facilidade que a Transoeste trará para que moradores de outras região cheguem à Barra e ao Recreio preocupa moradores desses bairros. Eles temem a falência do comércio, a favelização e o crescimento da violência.

"Não temos estrutura para suportar esse corredor. Ele é viável para quem vem trabalhar aqui. Essa é uma futura Avenida Brasil: ficará repleta de favelas e degradará a região", desabafou o presidente da Associação de Moradores do Recreio, Dair José Zanoteli.

O secretário municipal de Urbanismo, Sergio Dias, rebate: "Não há desvalorização de área porque você permite o acesso a pessoas de outras classes. É um elitismo atemporal: a melhoria do transporte público é uma evolução numa cidade".

Mais imóveis na região

No passo das mudanças que chegam aos bairros cortados pelo corredor Transoeste está o crescimento imobiliário. No mercado de venda e locação de imóveis, a via expressa já se reflete em procura maior das construtoras pelas regiões onde os ônibus BRT vão circular. A explicação é simples: a falta de um sistema de transporte inviabilizava morar em locais como Campo Grande, Santa Cruz e Recreio.

Dados da Associação de Dirigentes do Mercado Imobiliário (Ademi-RJ) mostra que o aumento de unidades habitacionais é de 30% ao ano na Zona Oeste.

Vizinhos já chamam corredor de Transtorno Oeste

Se o corredor de ônibus que vai ligar Barra a Santa Cruz vai representar rapidez e comodidade para algumas pessoas, para outras, a sua construção é sinônimo de problemas. É o caso da cozinheira Alindonéia Pereira Daniel, 59 anos, que mora no Recreio em terreno que abriga não só a sua casa, como as de três filhos. Seus bisnetos já são a 5ª geração da família que reside no local desde 1958.

"É a 'Transtornoeste'. A minha casa foi avaliada em R$ 280 mil, mas vou receber só R$ 58 mil. E não é o pior: cada um dos filhos vai ter que ir para um canto, porque as indenizações não permitem comprar um terreno grande como este", disse Alindonéia.

Num trecho da Av. das Américas, o único imóvel que sobrou foi o do casal mineiro Yeda Anna da Conceição, 71, e Joelson Jesus, 69. Não há uma decisão da prefeitura sobre o que será feito com a casa onde estão há 35 anos. Os imóveis vizinhos foram desapropriados. "Já disseram que teremos que sair. Mas também falaram que não. Vivemos a incerteza", diz Yeda.

Dono de uma loja de flores ornamentais no Recreio, o comerciante Antonio Jóia, 62, já calcula o prejuízo com o alargamento da via. Sem terem onde estacionar, os clientes sumiram: "Estou esperando o comunicado para sair. Imediatamente terei que demitir os seis funcionários".

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