Feriado termina com 68 ônibus depredados no Rio

03/11/2016 - O Globo

Linhas 474 e 476 foram alvos de vandalismo, segundo Rio Ônibus
   
POR GISELLE OUCHANA

Ônibus tiveram janelas e vidros quebrados, além de poltronas rasgadas - Divulgação

RIO - O feriado de Finados, com sol forte, calor e praias lotadas, terminou em prejuízo para a viação Braso Lisboa, que opera as linhas 474 (Jacaré-Copacabana) e 476 (Méier-Leblon). Mais uma vez, os ônibus da empresa foram alvos de vandalismo promovido por grupos de adolescentes. Segundo o sindicato das empresas de ônibus (Rio Ônibus), 68 veículos foram depredados e tiveram bancos rasgados, além de vidros e saídas de emergência quebrados. Pelo menos 30 coletivos ficaram totalmente destruídos. Ninguém ficou ferido.

Os atos de vandalismo aconteceram, principalmente, na Avenida Presidente Vargas, no Centro, na Cidade Nova e na altura do terminal rodoviário Novo Rio. Segundo o Rio Ônibus, desde o início do ano, a Braso Lisboa já registrou 179 ônibus depredados em atos de vandalismo, sendo 119 apenas nos últimos dois meses. No período de um ano, o custo de reparo dos ônibus depredados ultrapassam R$ 575 mil, que seriam suficientes para realizar a compra de quase dois coletivos.

Além do prejuízo financeiro, a empresa ressalta que os usuários das linhas são os mais prejudicados. “As ações de vandalismo prejudicam a oferta de transporte aos passageiros”, afirma em nota. Durante a madrugada desta quinta, mecânicos tentaram fazer os reparos necessários para que a circulação ocorresse normalmente na parte da manhã. Apesar de todo o esforço, no entanto, apenas 47 veículos foram consertados a tempo. Os demais só entraram em operação a tarde. Apenas um não teve o reparo concluído por falta de peças. “Ninguém imagina que 68 carros vão ser depredados num só dia. Por isso as empresas não têm tanto estoque de peças para reposição”, explicou em nota repudiando a violência.

Procurada, a Polícia Militar disse que realizou blitz em em diversos locais no sentido de coibir ações criminosas. Em nota, afirmou ainda que o4° BPM (São Cristóvão), que abrange a área da Rodoviária, “recebeu um reforço de 40 policiais no efetivo e vem intensificando o policiamento nos locais de maior incidência criminal". As imagens do circuito interno dos ônibus já estão sendo analisadas pela Polícia Civil.

ÁREA DA RODOVIÁRIA É UM DOS PIORES TRECHOS

O entorno da Rodoviária Novo Rio é, para os motoristas que trabalham nas linhas 474 e 476, um dos piores trechos. É lá que muitos adolescentes entram nos ônibus após roubar pertences de quem chega à cidade pelo terminal.

— Eles roubam as bagagens das pessoas, entram no ônibus para fugir e selecionar o que lhes interessa. O que não for de interesse, os adolescentes simplesmente descartam jogando os objetos pelas janelas do ônibus, aumentando o risco, inclusive, de provocar um acidente — contou um despachante que preferiu não ser identificado.

Os túneis Santa Bárbara e Rebouças também estão na rota de perigo. As galerias que ligam a Zona Sul ao Centro e à Zona Norte são o início do chamado “surfe rodoviário”, em que os jovens andam no teto do ônibus em movimento. O Largo da Cancela, em São Cristóvão, e o Largo do Pedregulho, em Benfica, também são pontos “complicados”, garantem os funcionários.

Abalados, motoristas estão desistindo de trabalhar na “linha do inferno”, como já é conhecida entre os rodoviários a 474. No mês passado, um funcionário que trabalhava há três anos no itinerário precisou ficar cinco dias afastado da função após um choque: um grupo de 70 adolescentes invadiu o ônibus e o obrigou a parar em todos os pontos para fazer assaltos.

— Eles desembarcam, assaltam e voltam para o ônibus — contou o motorista.

Os rodoviários descobriram que uma das estratégias adotadas por esses jovens é apertar o botão de emergência dos coletivos. Localizado na porta traseira, o “anjo da guarda” só deve ser acionado em situações de perigo para interromper o funcionamento do motor, impossibilitando a aceleração. No entanto, os jovens o ativam, descem do veículo para praticar roubos e conseguem alcançá-lo para fugir.

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