Rio vai criar bulevar na Av. Rio Branco



O Estado de São Paulo, Felipe Werneck, 04/mai
Projeto polêmico anunciado pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB), o fechamento para carros, motos e ônibus da centenária Avenida Rio Branco, no centro do Rio, ganhou dia para começar a sair do papel. A restrição deverá ocorrer a partir de 26 de junho, um sábado, em caráter experimental. A data foi definida no fim de semana. Ainda não foi anunciado, porém, um plano alternativo de transporte.
A intenção de Paes é criar um "parque urbano" na avenida símbolo da reforma promovida no início do século passado pelo então prefeito Pereira Passos (1902-1906). O projeto idealizado pelo secretário de urbanismo, Sérgio Dias, enfrenta oposição até mesmo do superintendente local do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Carlos Fernando Andrade. Trata-se de um aliado em outro tema controverso: a ampliação de gabarito aprovada no início do ano para permitir a construção da nova sede da Eletrobrás na Lapa, com 44 andares.
"Numa semana vão demolir o Elevado da Perimetral e, na seguinte, fechar a Rio Branco. Se é para fechar alguma coisa, vamos fechar a Rua 1.º de Março. É uma rua muito mais importante historicamente, tem todo um passado colonial, fica perto da Praça XV. Aí, sim, seria ótimo para a cidade. Ali tem razão para fazer isso", disse Andrade.
Ele defende a apresentação de um plano de transporte. "Enquanto isso não existe, fica uma coisa sem sentido." A prefeitura confirmou a interdição em 26 de junho, mas não detalhou o que será feito. Informou apenas que "está fechando o projeto". Por enquanto, não há prazo para o fim da fase de testes.
Transporte. A prefeitura havia apresentado uma estimativa de que a redistribuição das 115 linhas de ônibus que hoje circulam pela avenida resultaria na redução pela metade do número de ônibus, com a modificação de itinerários. Estão previstas duas estações de transferência, que seriam interligadas por veículos elétricos.
De acordo com o plano, o trecho da Rio Branco entre a Igreja da Candelária e a Cinelândia viraria um calçadão com chafarizes, árvores e quiosques. O presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) no Rio, Sérgio Magalhães, disse que a previsão de redução da frota que circula pelo centro é válida, mas não quis comentar o projeto de fechamento do trânsito na avenida por desconhecê-lo.
Reflexos. Também com a ressalva de que, por enquanto, só conhece o projeto pela imprensa, o arquiteto e urbanista Augusto Ivan de Freitas Pinheiro, ex-secretário municipal de urbanismo, disse que tirar o impacto na Rio Branco é "louvável", mas ressaltou que é preciso "tomar cuidado com os reflexos".
"Pode-se consertar de um lado, mas isso vai criar outros problemas que vão demandar ações governamentais. O centro à noite é um dormitório de mendigos, inseguro", disse. "O pessoal da Rua do Lavradio, na Lapa, por exemplo, teme que terminais de ônibus sejam levados para lá. Foi muito difícil revitalizar aquele espaço, que hoje é uma referência urbanística, nos anos 1990."

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