Bilhete único torna ônibus o transporte mais barato do Rio; empresários querem indenização por licitação
MUDANÇAS
Publicada em 30/04/2010 às 23h45m
Selma Schmidt - O Globo - 30/04/2010RIO - O Rio Ônibus, sindicato que representa as empresas de coletivos da capital, rompeu nesta sexta-feira o silêncio desta semana, desde que a prefeitura começou a dar detalhes da licitação de todos os trajetos e da implantação do bilhete único no município. Em nota, afirmou que respeita a decisão da prefeitura, mas vai velar pelos seus direitos, "particularmente o de indenização dos investimentos realizados que permanecem não amortizados ou depreciados". O sindicato acrescenta que as empresas vão aguardar a publicação do edital, prevista para 24 de maio, para emitir juízo de valor sobre ele, bem como divulgar a posição que vão adotar.
Na nota, os empresários dizem que "sempre entenderam que novas linhas de ônibus deveriam ser licitadas". Afirmam que a prorrogação das permissões, em 1998, se deveu a investimentos realizados. Ressaltam que, na licitação lançada em 2008, "o direito de indenização das empresas não estava assegurado, embora continuassem a operar os serviços e a realizar investimentos, tais como renovação da frota, bilhetagem eletrônica etc". E deixam claro que, na época, "houve recurso à Justiça estadual, que concedeu liminar suspendendo aquela licitação."
Não há bilhete único tão barato e econômico como o do Rio
A implantação do bilhete único no município, possivelmente em outubro, após o fim da licitação, tornará o ônibus o meio de transporte mais barato da cidade. Mesmo embarcando em dois coletivos, o passageiro pagará R$ 2,40, em vez dos atuais R$ 4,70. Para viajar de metrô, sem integração, os usuários precisam desembolsar R$ 2,80. A tarifa básica dos trens custa R$ 2,50. Já as vans, dependendo do trajeto, chegam a cobrar R$ 7.
- Não há bilhete único tão barato e econômico como o do Rio - disse nesta sexta-feira o prefeito Eduardo Paes.
(Leia mais: Bilhete único terá validade de duas horas entre a 1ª e a 2ª catracas, não da origem ao destino)Baldeações: aumento de 20% para 35%Como consequência da entrada em operação do bilhete único, a Secretaria municipal de Transportes estima um aumento de 20% para 35% da quantidade de passageiros que fazem baldeações. O órgão pondera que parte desses novos usuários de dois ônibus serão pessoas que, hoje, caminham um ou dois quilômetros para pagar uma só passagem.
(Vote: Qual a melhor novidade no sistema de transporte?)Os 52 milhões dos 65 milhões de passageiros/mês (80%), que hoje usam um único ônibus e gastarão R$ 0,05 a mais por passagem, representarão acréscimo na receita das empresas de R$ 31,2 milhões ao ano. O valor cairá para R$ 21,1 milhões/ano, se a quantidade de passageiros que pegam um ônibus diminuir de 80% para 65% (42,3 milhões de usuários/mês).
Outra questão a considerar é o número de usuários de outros meios de transporte, que poderão migrar para o ônibus.
- Os cálculos foram feitos a partir de estimativas. É preciso esperar alguns meses, após a implantação do sistema, para ver se os R$ 0,05 compensarão as empresas. Poderá haver surpresas e serem necessários ajustes - diz o professor José de Oliveira Guerra, do Departamento de Transportes da Uerj.
Segundo José Eugenio Leal, especialista em transporte e professor da PUC, a falha é não incluir de imediato metrô e trens no bilhete municipal:
- Com apoio do estado, que já subsidia o bilhete único intermunicipal, os trens e o metrô poderiam passar a custar R$ 2,40 para aqueles que usassem o bilhete único.
Para o professor Paulo Cesar Ribeiro, do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ, o maior ganho do pacote do município será o do reordenamento da frota. Ele lembra que, quando coordenou o projeto Rio Bus, apresentado em 2001, verificou que a quantidade de linhas interligando a Zona Sul ao Centro poderia ser reduzida a um quinto.
Números da Secretaria de Transportes dão conta de que os ônibus que circulam nas zonas Sul (cerca de 2.500) e Norte (3.000), somados, representam o dobro dos coletivos da Zona Oeste (1.500) e de Barra e Jacarepaguá (1.500).
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