Linha do Tempo


1920 - 1929

A superlotação do bondes favoreceu o surgimento de novas empresas de ônibus. A cidade não parava de crescer e seu sistema de transporte coletivo composto basicamente por bondes e trens de subúrbio, se encontrava praticamente engessado.

Situação distinta do tempo do Império, quando o transporte coletivo era o indutor do crescimento ordenado da cidade, quando as linhas de bonde eram construídas antes mesmo dos bairros serem ocupados. Na prática, na década de 1920, acentua-se falta de controle do poder público no ordenamento do crescimento da cidade. Problema que só foi tomando maior corpo nas décadas seguintes.

Apesar do serviço de transporte coletivo rodoviário sofrer com a falta de regulamentação, pois a legislação existente datava de 1906 e não mais atendia às necessidades da população, no decorrer da década de 1920 a cidade do Rio de Janeiro passou a contar com um dos melhores serviços de ônibus do mundo, elogiado mesmo por especialistas estrangeiros.

Motor-Bus Transportation, Janeiro/1926, Part 2, p.18.


Enquanto o serviço e bondes, que também já fora considerado um dos melhores do mundo, entrava em decadência, os novos empresários de ônibus investiram pesado para oferecer um diferencial de conforto para concorrer diretamente com os bondes.

O serviço de ônibus era considerado seletivo, com tarifa superior aos bondes, direcionado à população remediada, ainda sem automóvel mas que poderia se dar ao luxo de pagar mais caro em seus deslocamentos, escapando da superlotação dos bondes.


A Razão, 29/06/1921, p.5
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O Imparcial, 30/11/1923


Em 1923, visando regularizar o serviço transporte de passageiros em auto-omnibus, a prefeitura resolve só licenciar novos veículos que atendessem determinadas exigências de conforto, segurança e estética. Para tanto mandou estudar um novo tipo de veículo para servir de padrão. Em agosto de 1923, já se encontrava pronto o auto-omnibus padrão a ser adotado. Contava com dois acessos para entrada e saída, assentos com molas, teto abaulado, e capacidade para 20 passageiros sentados em bancos duplos.

Em março de 1924, a Prefeitura do Distrito Federal proíbe a circulação de ônibus com rodas de borracha maciça, sendo permitido somente o uso de pneumáticos.

Em 1925, após o aumento da concorrência das empresas de ônibus, principalmente da Nacional Auto Viação, a Light encomenda 28 chassis de auto-omnibus de último tipo para operação em sua futura empresa de ônibus de luxo, depois nomeada de Viação Excelsior. Os chassis seriam encarroçados no Brasil, nas oficinas da própria empresa, em função do alto custo das carrocerias nos Estados Unidos e Europa.

Em 1926, algumas linhas da Empreza Nacional Auto Viação circulavam com intervalos de 5 minutos nos horários de maior movimento. A empresa tinha frota de mais de 100 omnibus.

Em 1926, a The Rio de Janeiro Tramway, Light & Power C.  inicia a operação de ônibus a gasolina na linha da Avenida Rio Branco, juntos dos ônibus elétricos a bateria. Na mesma ocasião é lançado o plano de substituição dos ônibus elétricos por 14 ônibus de dois andares.

Até 1926 só havia uma empresa de ônibus nos subúrbios, atendendo as localidades de Vargem Grande, Taquara, Vargem Grande e Rio Grande, em Jacarepaguá. Entre 1927 e 1928 surgem 4 novas empresas;

Empresa                  Contrato Linhas

A.Monteiro de Souza         08/10/1927 Ilha do Governador
Monteiro de Souza      18/02/1928 Cascadura - Jacarepaguá
Chucri Zanarini e Neme Zanarini 28/03/1928 Madureira - Irajá
Viação Santa Cruz (a)         07/12/1928 Campo Grande - Mendanha

(a) de Francisco Garcia Ferreira. Linha inaugurada em fins de dezembro de 1928.

Em 13 de outubro de 1926, a Prefeitura do Distrito Federal regulamenta a criação da Inspectoria de Concessões, responsável pela fiscalização dos vários contratos de concessões, entre eles os das empresas de auto-omnibus.

No início de 1927, a cidade do Rio de Janeiro contava com 8 empresas de ônibus e frota de 170 veículos, assim distribuídos: 

Empresa N° Veículos

Nacional Auto Viação  102 10 linhas
Excelsior                     35
Martins Correa 10     
Maracanã 8
Mettelo Junior 5
Carioca     4
Motor Viação
Guanabara 2

Em junho de 1927, a Prefeitura do Distrito Federal cria a Inspectoria de Concessões responsável pela gestão e fiscalização do sistema de ônibus. No mesmo ano é proibido o excesso de lotação nos veículos.

Em 23 de julho de 1927, segundo matéria do Jornal O Globo, o Distrito Federal contava com 16 empresas de ônibus, sendo 12 urbanas e 4 suburbanas, com frota de 180 omnibus. A Avenida Rio Branco era o principal corredor, já apresentando congestionamentos, com fluxo de cerca de 120 ônibus nos horários de pico.

A criação de novas empresas e inúmeras linhas de ônibus provocou a quebra de inúmeros taxistas. Em resposta, em 17 de novembro de 1927, um ex-motorista de auto de praça (táxi) inaugura a primeira linha de auto-lotação regulamentada da cidade, entre a Praça Mauá e a Igrejinha, com um automóvel com capacidade para 5 passageiros, cobrando 1$500 por pessoa. 

Segundo a Viação Excelsior, os lotações contribuíam para a redução da popularidade dos ônibus, principalmente nos trechos onde o serviço de ônibus era deficiente.

Em 27 de setembro de 1927, segundo contagem, na Avenida Rio Branco, em frente ao Hotel Avenida, na pista sentido zona norte, no horário de maior movimento, das 17h45 às 18h45, circularam 78 auto-omnibus, com uma média de 20,6 passageiros/veículo.

Em 1927, a linha urbana mais extensa era a Muda da Tijuca - Leblon, com 23,1 km da  Nacional Auto Viação. A mais curta a Mauá - Monroe da Light, com 2 Km, operada com omnibus eléctricos.

Em princípios de 1928, havia no Rio de Janeiro 19 empresas de ônibus, sendo que 3 empresas foram extintas no decorrer do ano: Viação Glória, Viação Carioca e Rio de Janeiro Auto Omnibus. Duas novas empresas entram em operação: Viação Cruzeiro e Viação Tijuca. 

Em 1928, foram licenciados 318 auto-omnibus para o serviço de transporte coletivo, sendo 15 para os subúrbios e zona rural. O crescimento da frota foi notável, pois em 1924 havia em todo o Brasil apenas 150 ônibus.

Em maio de 1928, é realizada a II Exposição de Automobilismo Autopropulsão e Estradas de Rodagem, com pavilhões erguidos na Avenida das Nações, promovendo o uso de veículos automotores no país.




REFERÊNCIAS:

SCHUETTE, Herman Charles. Brazil. Motor-Bus Transportation. Washington, USA. Part 2. Janeiro 1926. p.22.

Serviço de Auto-Omnibus. O Paiz. Rio de Janeiro. 05 junho 1929. p.9.

Coisas da Metrópole Maravilhosa. Vida Carioca. Rio de Janeiro. Setembro 1934. p.6.

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