Passageiros não conseguem usar bilhete único no prazo

07/10/2015 -O Globo

Com baldeação, moradores da Zona Oeste levam mais de 3h até o Rio Sul e pagam nova tarifa para o Centro
  
RENAN FRANÇA

Ana Paula sentada no chão do ônibus antes de passar pela roleta: estratégia não deu resultado - Renan França / O Globo

RIO — De carro, em condições normais, duas horas são suficientes para ir a Petrópolis, cidade serrana a cerca de 80 quilômetros do Rio. Mas, no trânsito pesado da cidade, moradores de Vargem Grande, na Zona Oeste, não conseguem, nesse tempo, cruzar de ônibus os 40 quilômetros que separam o bairro de Botafogo. Eles conhecem a via crucis há tempos. Só que, desde segunda-feira, primeiro dia útil após a extinção de 11 linhas da Zona Oeste, a vida de quem deixa o bairro com destino ao Centro ficou pior. Agora, em toda viagem há necessidade de baldeação. Segundo a campanha do Sindicato das Empresas de Ônibus da cidade (Rio Ônibus), o melhor ponto de transferência é no Shopping Rio Sul, em Botafogo. Porém, quem opta por esse caminho está pagando a mais por isso.

A gerente comercial Ana Paula Perez tentou dar seu jeito. Assim que embarcou na linha integrada 9, em Vargem Grande, pouco minutos depois das 8h, deu de ombros aos lugares vazios. Preferiu sentar no chão, ao lado do motorista. A estratégia foi evitar passar na roleta para não ter o Bilhete Único validado. Para quem possui o cartão, é possível realizar uma segunda viagem sem pagar, desde que o intervalo entre um embarque e outro seja feito em até 2 horas e meia. Ana Paula levantou e passou pela roleta pouco antes das 8h30, imaginando que o tempo seria suficiente. Mas não deu. Quando chegou ao Shopping Rio Sul, às 11h05, o tempo já havia estourado.

— Amanhã (quarta-feira) farei a mesma coisa, mas vou permanecer por mais tempo sentada no chão antes de passar. Hoje (terça-feira), meia hora não foi suficiente. Como o trânsito parecia bom, acabei me precipitando. Hoje (terça-feira), ficarei no prejuízo, mas serve de lição — diz a gerente comercial, que, até sexta-feira, utilizava apenas a linha 382 para chegar ao Aeroporto Santos Dumont, onde trabalha.

De acordo com a prefeitura, nessa primeira fase da extinção de linhas de ônibus, cerca de 45 mil passageiros foram afetados e tiveram que procurar novas alternativas. Uma delas é o caminho pela Linha Amarela, até o Centro. A prefeitura manteve tanto a 361, que liga o Recreio ao Largo da Carioca — a frota foi duplicada de seis para 12 veículos — quanto a 315, que liga o Recreio à Central (o número de coletivos aumentou de 20 para 36). Na segunda-feira, no ponto da 361, o despachante da linha informou que os dois primeiros ônibus que partiram do ponto final no Recreio transportaram quase o dobro de passageiros (220 contra 130 antes da mudança).

Outra opção para os moradores seria o BRT Transoeste, vindo de Santa Cruz. Neste caso, moradores de Vargem Grande reclamam da superlotação. Segundo o consórcio, o sistema transporta diariamente, em horário de pico, 13 mil passageiros por hora.

— Os passageiros de Vargem Grande, Recreio e Barra, no horário da manhã, não podem contar com o BRT, que vem lotado. É um modal de transporte que, em pouco tempo de operação, atingiu seu limite no horário de pico. Nesse sistema, 15 mil passageiros por hora indicam que ele precisa ser aumentado — diz Alexandre Rojas, professor do Departamento de Engenharia de Transporte da Uerj. — A prefeitura deveria reavaliar o tempo de duração do Bilhete Único. A cidade está com obras por todo lado. No passado, ela (a prefeitura) aumentou a tolerância, agora deveria fazer isso de novo até o trânsito do Rio melhorar.

Faltavam poucos minutos para as 8h quando o primeiro passageiro embarcou, na manhã desta terça-feira, na linha integrada 9 (Piabas-Rio Sul). Era o professor de português André Luiz Nunes, que mora com a namorada em Vargem Grande. Apesar de trabalhar em uma escola no bairro do Jacarezinho, nesta terça-feira seu destino era o Centro. Sem usar a mesma estratégia da vizinha de bairro, André passou pela roleta e escolheu o primeiro banco vago atrás do motorista. Durante a viagem, ele ouviu música, leu jornal e acessou as redes sociais. Depois de 3 horas e 10 minutos de viagem, desembarcou em Botafogo.

— O jeito agora é entrar e não sentar. Vou usar meu tempo disponível na viagem para fazer projeções e tentar adivinhar se dará ou não tempo de fazer a integração — brincou o professor. — Perder um dia não faz tanta diferença, mas, se for recorrente, dá um desfalque no orçamento mensal — diz André.

O secretário municipal de Transportes, Rafael Picciani, argumentou que o programa de redução das linhas de ônibus provoca uma mudança de hábito na população, gerando preocupação nos usuários. Segundo ele, os passageiros vão encontrar o melhor caminho para utilizar o serviço.

— Existe um ponto de integração no Shopping Rio Sul, mas não é só lá — disse o secretário, destacando que o passageiro pode descer no Shopping Fashion Mall, em São Corando, e lá pegar as linhas 177 ou 172 para chegar ao Centro.

Questionado sobre a campanha do Rio Ônibus — que desde a semana passada distribui folhetos sugerindo a baldeação no Rio Sul —, ele disse ter sido informado de que motoristas da linha que liga Piabas a Botafogo é que ficariam a cargo de avisar os passageiros sobre os melhores caminhos.

— Não posso afirmar se isso está sendo feito. O que posso garantir é que o impacto no trânsito vai começar a diminuir com a inauguração do (novo) Elevado do Joá, na Barra. Além disso, com menos ônibus na rua, os corredores BRS vão ganhar eficiência. Poderemos até diminuir o tempo de integração do Bilhete Único.

De acordo com a prefeitura, o percentual de moradores de Vargem Grande que fazem integração para o Centro é de apenas 1,9%.

A partir do dia 24 de outubro, a prefeitura vai começar a segunda fase do programa de redução das linhas. A mudança vai mexer com itinerário de coletivos que vêm da Zona Norte para o Centro. Os trajetos que vão sofrer alteração, no entanto, ainda não foram divulgados.

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