Só duas BRTs ganham selo ‘ouro’: a Linha Verde, em Curitiba, e TransOeste, no Rio

17/09/2014 - Gazeta do Povo

Curitiba possui apenas uma linha de BRT (Bus Rapid Transit) comparável às melhores práticas do sistema de locomoção em todo mundo, conforme avaliação feita pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP, na sigla em inglês). No Brasil, apenas a Linha Verde, na capital paranaense, e a TransOeste, na capital carioca, receberam o selo "ouro". Os demais eixos de BRT de Curitiba receberam um selo "prata".

"Não necessariamente um sistema 'prata' é ruim, não dá para tratar de forma maquiavélica, mas o 'ouro' é de muito mais alta capacidade", observa Clarisse Linke, diretora do ITDP no Brasil. Para a formulação das notas, o instituto leva em conta o alinhamento das vias de ônibus, a infraestrutura segregada com prioridade de passagem, cobrança da tarifa fora do ônibus, tratamento das interseções e embarque por plataforma em nível.

Em Curitiba, a diferença de avaliação entre a Linha Verde e os demais eixos tem a ver a com a estrutura mais moderna. Enquanto os outros possuem a pavimentação asfáltica, a Linha Verde conta com o piso concretado. A capacidade dos ônibus e a integração com outros modais também conta. "A Linha Verde tem conceitos muito interessantes, como as estações que são terminais, onde os ônibus conseguem alimentar na própria plataforma em que fazem a transferência", pontua o diretor-presidente da Embarq Brasil, Luiz Antonio Lindau.

Ainda inovadora

Para Lindau, Curitiba segue sendo inovadora, já que adaptou os corredores para permitir a ultrapassagem, usa veículos de grande capacidade (biarticulados e ligeirões) e a coordenação semafórica a partir dos ônibus. "Esse sistema é usado na Europa, mas não na América Latina", diz.

No Brasil, outro sistema a receber o selo "ouro" é o TransOeste, primeiro corredor implantado no Rio de Janeiro. O sistema tem 56 quilômetros (e terá mais 7 até 2016) e será interligado com os corredores Transcarioca e Transolímpica. "Quando fizemos o projeto de BRT, discutimos as melhores práticas do Brasil e de outros países, o que eles faziam e o que inovaram", diz Lélis Marcos Teixeira, presidente da Federação das Empresas de Transportes Coletivos do Rio de Janeiro (Fetranspor).

Aumento de oferta põe foco sobre o sistema

A proliferação de ônibus BRT em todo o Brasil faz crescer a atenção para a qualidade do sistema. A discussão esteve presente no Seminário Nacional da NTU, em agosto, em Brasília. "O sistema BRT tem de fazer parte de um mosaico de transportes, com ou sem metrô. Tem cidades pequenas em que não necessariamente precisa ter um BRT, onde o investimento deveria ser feito em infraestrutura cicloviária", diz Clarisse Linke, do ITDP.

Para ela, a revisão dos planos diretores vem a calhar para forçar o pensamento em cidades compactas, adensadas, com uso misto do solo e rede multimodal integrada. "Existe muito trabalho a ser feito, mas, acima de tudo, é um novo olhar que os planejadores urbanos precisam ter sobre a cidade, um novo entendimento sobre sistemas de transporte público e como eles podem alavancar o desenvolvimento social, econômico e ambiental."

Para o diretor-presidente da Embarq Brasil, Luiz Antonio Lindau, o Brasil ainda aprende a construir redes de transporte. "No caso brasileiro, o BRT nasce como um processo dentro da integração de serviço e tarifa, ao contrário do que ocorreu na América Latina." No entanto, o país ainda tem desafios importantes, como melhorar a regularidade do serviço e integração com outros modais.

Contratempos

Instituto analisa ainda os itens negativos

Além dos fatores que somam pontos na avaliação do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento, também há análise de itens que poderiam mascarar um bom resultado, como a baixa velocidade comercial, não priorização de ultrapassagens, problemas nas estações, superlotação e manutenção de vias e sistemas de tecnologia.

Para o diretor-presidente da Embarq Brasil, Luiz Antonio Lindau, um dos atributos que o usuário do transporte mais valoriza é a regularidade da linha. O que acontece de modo geral é a perda do intervalo de tempo entre os ônibus, que acaba causando a formação de comboios. "Hoje se informa ao motorista que ele está atrasado ou adiantado e muitas vezes ele não consegue recuperar esse tempo. Dá para ir além, com localização dos veículos e a rapidez no processamento de informações." O Chile já testa um sistema de monitoramento nesses moldes.

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